
Símbolo de uma década de clássicos cultuados até hoje, Tubarão (Jaws, no original) é um marco nas produções de alto orçamento. Com um custo vultoso para a época (9 milhões de dólares), o filme se destacou na mídia como um projeto ambicioso, despertando o ceticismo da crítica que não acreditava que o longa-metragem conseguiria ser finalizado. Foram inúmeros problemas desde a pré-produção até o corte final. As adversidades nas sequências filmadas na água, impuseram diversos desafios à equipe, especialmente, ao Diretor de Arte Joe Alves. A réplica mecânica do temido predador dos mares, controlada à distância, testou todos os envolvidos que tiveram que se acostumar com as incertezas a cada novo dia de trabalho no set. Para um jovem cineasta de 27 anos, à época, chamado Steven Spielberg, foi uma experiência traumatizante e ao mesmo tempo definidora, em sua carreira.
Rodado em Martha’s Vineyard, no nordeste dos EUA, a história por trás desta produção é um outro filme. Conflitos no elenco, atrasos no cronograma e gastos além do orçamento inicial, forjaram a reputação de se tratar de um fracasso a ser lançado. Um dos maiores fenômenos da sétima arte teve um parto tenso, repleto de traumas, mas com um desfecho surpreendente. E no seu quinquagésimo aniversário, um documentário revisita as primeiras ideias, o processo e o que foi preciso para colocar nas telas este cult. Tubarão – Por trás do clássico (Disney+) escuta personalidades que declaram o impacto da obra em suas vidas e como muitas delas se apaixonaram pelo cinema, por conta do filme. Moradores da pequena ilha que serviu de locação para a fotografia principal, relatam como cresceram num espaço que se divide entre antes e depois das filmagens. E oceanógrafos partilham o massacre da espécie retratada, que passou a estar sob forte ameaça depois de 1975.
Lançado três anos depois de O Poderoso Chefão e dois anos antes de Star Wars, Jaws dividiu a década de 70, famosa por títulos excelentes entre os mais variados gêneros. A adaptação do livro homônimo de Peter Benchley, redefiniu aspectos estéticos no suspense cinematográfico. Das duas notas angustiantes de John Williams passando pelos avanços no departamento de efeitos especiais, Spielberg trabalhou de forma magistral o poder da sugestão de uma ameaça que não se vê, mas se sente na trilha e no comportamento da câmera, provando que suas ideias para cada tomada tinham um propósito muito maior. Com salas lotadas e mais de 470 milhões de dólares em bilheteria pelo mundo, o sucesso foi tremendo. E cinquenta anos depois, segue intenso na memória de um público diverso que se identifica com as inúmeras referências e mensagens no texto adaptado. Para Fidel Castro, a publicação de Benchley era uma metáfora maravilhosa sobre a corrupção do capitalismo.