
No dia 13 de julho, o cantor e compositor Sandro Luiz sobe ao palco do Qualistage, na Barra da Tijuca, para comemorar uma década de carreira com um show histórico. A apresentação, que marca a gravação de seu primeiro projeto audiovisual, promete emocionar o público com participações especiais, homenagens e uma atmosfera de diversidade, fé e representatividade. O músico é extremamente reconhecido como um dos cantores mais renomados da umbanda. Com uma trajetória marcada pela sua profunda conexão espiritual, ele é um médium, sacerdote e dirigente que brilha tanto no Brasil quanto internacionalmente. Confira!
JP – Você está ligado à performance. Como equilibra técnica e emoção durante o show?
É muito incrível, porque a gente precisa estar concentrada para poder cantar e, ao mesmo tempo, a gente se emociona com as canções, com a ocorrência das pessoas. E tudo isso está ligado à espiritualidade, à nossa religiosidade, à nossa ancestralidade, à nossa cultura em cima do palco.
Lidar com isso chega a um ponto em que a gente é levada. Estamos tão concentrados, tão entregues e preparados para fazer aquilo que parece que vivemos a vida inteira fazendo isso. É incrível.
Essa pergunta é muito interessante porque realmente exige concentração para cantar, para ouvir os músicos, para receber as mensagens, tanto da espiritualidade quanto da própria produção ali no momento. E a gente é entregue, imerso nesse grande sentimento, energizado com as pessoas.
Como isso acontece? Eu não sei exatamente, mas sei que tudo flui com muita energia e muito respeito. Se fosse buscar uma explicação mais objetiva, acho que seria isso, ou respeito.
O respeito por tudo que está acontecendo, por tudo que a gente faz pela espiritualidade, pelas pessoas, por todos os que estão envolvidos, os músicos, toda a produção. Se houvesse um responsável por tudo isso dar tão certo, seria o respeito, o respeito por tudo e por todos que estão ali vivendo com a gente esse momento mágico.
JP – Quem são os profissionais que estão ao seu lado nesse projeto (diretor musical, bailarinos, cenógrafos)?
Nós estamos com um tempo espetacular. É algo surreal. Nosso grande diretor musical é Júlio Fejuca. Temos também o Thiago Beatriz, diretor criativo, além de músicos incríveis e sensacionais. O Dennis e o Ricardo Braga são percussionistas fora do comum. O Pebite, baterista, é incrível. O Chanel Ringolom é um musicista incrível. Então, nós estamos com um momento incrível, espetacular.
JP – Você acredita que a arte ainda tem o poder de transformar? Como o seu show se insere nesse contexto?
A arte verdadeiramente tem um grande poder de transformar as pessoas em seres humanos melhores. A cultura é o grande caminho para isso, seja literário, musical, e, através dos nossos espetáculos e da musicalidade, trazemos hoje a nossa ancestralidade que está dentro dos terreiros de Umbanda e Candomblé. Por meio dos seus ensinamentos, das canções e das histórias, que são trazidas em forma de canção, são ensinamentos que fazem com que as pessoas se posicionam no dia a dia como pessoas de caráter, melhores, com respeito, força e confiança.
Então, o nosso show, a cultura e a arte são ferramentas espetaculares para isso. A nossa musicalidade no palco traz essa grande missão de transformar aqueles que estão ali buscando se sentir bem, se equilibrar energeticamente, espiritualmente e mentalmente, tendo a grande responsabilidade de cuidar de si e se transformar em pessoas melhores.
A nossa arte, o nosso espetáculo, tem essa grande responsabilidade e é uma importante ferramenta para ajudar a desmistificar a nossa religião para aqueles que desejam conhecer e aprender. A arte ajuda a trabalhar questões como a intolerância religiosa e o racismo religioso. Então, a nossa cultura em cima do palco, com a musicalidade, a literatura, os filmes, o teatro, é uma grande ferramenta, e nós estamos 100% dentro desse contexto. Isso já é uma realidade.
JP – Quais momentos da sua carreira você sente que você se preparou para viver esse agora?
Eu sempre falo, e acabei repetindo, que minha vida é movida e direcionada pela espiritualidade. Tenho 100% de certeza disso, assim como todas as pessoas. Mas quando a gente entende esse grande propósito, que, independentemente da religião ou da escolha religiosa, nós somos seres terrestres vivendo uma experiência aqui, nós estamos vivendo uma vida terrena. Porém, a espiritualidade e o nosso espírito têm maturidade suficiente para que a gente cresça e lembre-se, nesta vida, de tudo o que já passou em outras vidas.
Então, o terreiro me ajuda muito. Tudo o que acontece dentro do terreiro, os trabalhos, as giras semanais que temos aqui em nossa casa espiritual, nos dão grande bagagem e direção na vida. É um momento em que a gente vai amadurecendo aos poucos. Tenho 100% de certeza que a espiritualidade nos prepara para cada momento, inclusive para este momento.
Por isso, eu procuro muito sentir os sinais. Não houve um momento específico, as coisas foram acontecendo desde o primeiro dia que pisei no terreiro com o Morgan. Eu estava preparado para isso, me preparei para isso, e depois, como sacerdote, fui preparado para isso. As coisas foram acontecendo e a gente foi aceitando com respeito, entendendo a missão.
Como artista, cantor ou compositor, a gente vai se preparando, melhorando para isso, ouvindo a espiritualidade, sentindo, preparando os shows, todo o espetáculo. Esse preparo vem com o tempo e, logicamente, artisticamente a gente tem que ir se preparando e melhorando cada vez mais para oferecer uma entrega melhor às pessoas.
Assim, conseguimos romper sempre a bolha e atingir mais pessoas que não conhecem a nossa religião ou que apenas gostam de ouvir uma boa música. Através da música, dentro da nossa arte, conseguimos envolver essas pessoas nesse sentimento, para que elas busquem aprender e conhecer a nossa religiosidade.
Então, o preparo vem com o tempo e no momento certo. Eu acredito que tudo tem seu momento certo, e se isso está acontecendo agora, é porque estamos preparados. Precisamos ter essa sabedoria e nos preparar física, energética, espiritual e artisticamente em todos os sentidos para estar à altura do que a espiritualidade e a vida trazem para as pessoas, para continuarmos trabalhando.
JP – Como você cuida do seu corpo e da sua mente na preparação para um espetáculo dessa magnitude?
O meu corpo, a espiritualidade sempre falou que a gente precisa cuidar da parte espiritual, energética e do corpo físico para poder cumprir a nossa missão com mais sabedoria, com inteligência, e deixar tudo mais leve, sem peso algum. Então, de uns quatro anos para cá, com essa carga de tarefas no trabalho espiritual, seja no terreiro, nos shows ou nos eventos, eu comecei a cuidar melhor do meu corpo físico, me alimentando melhor, buscando um instrutor, começando a fazer exercícios físicos e indo para a academia.
Mentalmente, a gente se cuida sempre procurando ver e ouvir músicas boas, ler livros bons, assistir a programas que ajudam a relaxar a mente. Assim, mentalmente, a gente se conecta a tudo que é bom para manter a energia equilibrada. Espiritualmente, temos a nossa casa, o nosso terreiro, que nos ajuda a equilibrar espiritualmente.
Então, nesse momento, a gente sempre procura deixar esses três corpos bem equilibrados: o corpo físico, o energético e o espiritual, para que a mente esteja firme e forte. O meu terreiro, a nossa casa espiritual, a Umbanda, é a grande força que tenho para estar espiritualmente bem. Além disso, uma boa alimentação e o exercício físico me ajudam a manter a saúde do corpo. Assim, a saúde energética, espiritual, física e mental deixa a gente firme para fazer a nossa parte e cumprir tudo da melhor maneira possível.
JP – Existe alguma mensagem central que você deseja que o público leve para casa ao final do show?
Tem algumas mensagens, sim. A gente não tem uma central, mas se fosse falar de uma central dentro da religiosidade, seria a fé, ter fé no que você acredita, na sua espiritualidade, na sua religiosidade. A gente canta e leva as musicalidades, as letras para as pessoas que resistem a tanta intolerância, a tanto racismo religioso. Então, algumas palavras ou mensagens serão mais focadas nesse sentido de fé, de resistência, de poder.
Como vamos estar no palco do Qualistage, que é gigante, temos fé. Resistimos, batalhamos e nos entregamos ao que sentimos, sempre com muito respeito, tanto à espiritualidade quanto às pessoas. O amor é fundamental quando lidamos com as pessoas e a espiritualidade.
Na verdade, a grande mensagem é que as pessoas se transformam e trabalham para serem melhores, seres humanos melhores, nós todos. Toda vez que estou cantando, quero me transformar em uma pessoa melhor. Então, a grande mensagem é que tudo o que a gente sente nesse dia do show, com a espiritualidade e a musicalidade, é para que a gente se transforme em pessoas melhores.
JP – O que esse show representa na sua caminhada como artista no combate à intolerância religiosa no Brasil?
Esse show é muito especial. Essa comemoração de 10 anos é muito especial, tanto por estarmos no Rio de Janeiro, onde a Umbanda foi fundada por Zélio Fernandini Moraes em 1908, se eu não me engano, quanto por estarmos voltando para onde a Umbanda nasceu.
Nesse novo momento, com um grande produtor musical, um grande músico, que é o Júlio Fejuca, as músicas tomaram um caminho espetacular, com arranjos espetaculares. A nossa intenção é trazer esse novo momento para o nosso povo e mostrar até onde as nossas canções chegam.
Através dessa musicalidade e dessas músicas novas, desses novos arranjos e com a participação de grandes artistas de alojamento que colocaram a mão nas músicas, conseguiram romper algumas bolhas e levar as nossas músicas e a nossa cultura de terreiro para fora do terreiro, pelo mundo.
Entendemos a grande importância desse momento, especialmente a partir do dia 13 de julho, quando nossa caminhada contra a intolerância religiosa e o racismo religioso, com a nossa musicalidade, fica ainda mais forte.
As pessoas envolvidas hoje, todo o campo musical, os músicos e os artistas nos dão um gabarito, uma bagagem para romper essas barreiras e essas bolhas. É isso que apoiamos: alcançar mais pessoas, mostrar a nossa cultura através dos shows e trabalhar contra a intolerância e o racismo religioso, para acabar com essa discriminação. Isso é muito importante para nós. É um grande momento.
JP – Você pode adiantar se esse show é um marco para novos projetos? Vai virar turnê, álbum ou registro audiovisual?
Ah, com certeza.Este show é um marco para vários projetos. Já está acontecendo com dois projetos e tem três projetos andando ao lado do show, que ainda não podemos revelar, mas serão apresentados perto do dia 13. Mais um projeto será lançado antes dessa data.
Depois do dia 13, queremos fazer algumas turnês com este show, sempre melhorando um pouco mais, trazendo novas músicas e mensagens em forma de canções novas, conforme o momento.
Então, é um grande marco para nós. Todo esse arranjo e toda essa nova produção nos ajudam a alcançar e galgar novas missões, que entendemos ser importantes para trabalhar contra a intolerância e o racismo religioso, e para levar a nossa cultura para o mundo.
Tem também alguns registros novos, mas isso é surpreendente para todo o mundo. Por enquanto, não podemos adiantar.
JP – Qual a sua memória afetiva mais forte relacionada à música ou à dança que você motiva até hoje?
As memórias que me fortalecem cada vez que eu faço um show são duas. Uma no palco e outra quando eu desço do palco. Em todos os shows, eu saio e fico esperando as pessoas para a gente tirar fotos, abraçar, conversar. Independente da quantidade, a gente fica até o último.
No palco, desde o primeiro show, eu vejo as pessoas se emocionando, chorando, colocando a mão no coração, se confortando, sentindo o coração pulsar mais alto, bater mais forte. Elas se emocionam, saem felizes, chorando, alegres. Isso ficou marcado na minha memória desde o início e mostra como a nossa musicalidade, a nossa ancestralidade, toca as pessoas.
E em todos os shows também, quando a gente vai conversar, sempre tem alguém que me toca muito, que me fortalece, que me dá cada vez mais força para quebrar barreiras, resistir e continuar dizendo que queremos ser respeitados, queremos ser ouvidos por meio da musicalidade. É quando as pessoas nos abraçam e falam que se sentiram curadas, que se emocionaram muito. Há relatos de cura, de pessoas que ficaram doentes e acabaram se curando. De pessoas que estavam no hospital, e um parente foi no dia do show cantar e pedir pela cura, e depois a gente se reencontra em outro show. A pessoa nos abraça, agradece, e a gente sempre fala que nós não somos responsáveis por isso. O responsável é o merecimento de cada um, é a força da música, a força da espiritualidade, dos orixás.
Essas duas experiências me dão muita força. Me emociono muito ao ver as pessoas, lá do palco, felizes, chorando, alegres. E, no final, quando elas vêm, a gente se abraça, conversa um pouco, e elas juntas como a música cura, como a música tem um poder, como transforma. E quando isso está ligado à espiritualidade, a potência é imensurável.
JP – E por fim, se você pudesse definir esse show em uma única palavra, qual seria?
Uma só palavra representa tudo o que é bom, tudo o que é de melhor, tudo o que é grandioso. Essa palavra é Axé. Esse show representa o Axé. Axé é tudo de bom, é força, é amor, é alegria, é saúde. É tudo de bom. Então, em uma só palavra: Axé.