
Por Arlindenor Pedro – Professor de História e Sociologia, coordenador do blog Utopias Pós Capitalistas.
“Hoje, uma oligarquia está se formando na América — de riqueza, poder e influência extremos — que realmente ameaça toda a nossa democracia, nossos direitos e liberdades fundamentais, e a chance justa de todos progredirem”.
— Joe Biden, discurso de despedida, janeiro de 2025.
— Joe Biden, discurso de despedida, janeiro de 2025.
A frase de Joe Biden, proferida ao entregar o cargo à administração de Donald Trump, ecoa não somente o famoso alerta de Eisenhower contra o “complexo industrial-militar”, mas revela, involuntariamente, um sintoma mais profundo: A auto dissolução da política na era do capital em crise.
Está mais do que evidente que a política estatal moderna, fundada na mediação entre trabalho, valor e cidadania, entrou em colapso porque os próprios fundamentos do capital perderam sua capacidade de regeneração histórica.
Quando Biden fala em “oligarquia”, descreve uma concentração inédita de poder que não se limita a bilionários ou corporações específicas. Trata-se de uma autonomia cega do capital transnacional, que submete Estados, governos e sociedades inteiras a uma lógica abstrata de valorização que já não consegue mais incluir as massas no jogo da participação econômica ou política.
Quando Biden fala em “oligarquia”, descreve uma concentração inédita de poder que não se limita a bilionários ou corporações específicas. Trata-se de uma autonomia cega do capital transnacional, que submete Estados, governos e sociedades inteiras a uma lógica abstrata de valorização que já não consegue mais incluir as massas no jogo da participação econômica ou política.
A oligarquia que ameaça a democracia burguesa moderna não é um desvio do sistema, mas sua expressão mais pura quando este atinge seus limites históricos.
A política dos Estados Nacionais não seguiria e dividiriam, então, os interesses das classes dominantes como um todo, conforme a sua influência em um determinado contexto, mas sim à submissão draconiana de todos ao grupo que se assenhorou do poder. Em última instância, tratar-se-ia aqui de uma mera política de rapina.
Isso ajuda a entender por que as empresas de Donald Trump agem com tanta força na política externa dos EUA — como na ocupação de Gaza, onde há projetos de resort naquela orla, ou nas atividades da World Liberty Financial, empresa da família do presidente que vende criptomoedas. A política externa americana se tornou, assim, uma simples extensão dos seus interesses comerciais.
É nesse cenário que se insere a recente ameaça do presidente Donald Trump de impor uma tarifa de 50% ao Brasil, sob o pretexto de represália política pela tentativa de distanciamento do governo Lula como aliado tradicional dos EUA e de iminente prisão de seu aliado no Brasil, o ex-presidente Bolsonaro.
Isso ajuda a entender por que as empresas de Donald Trump agem com tanta força na política externa dos EUA — como na ocupação de Gaza, onde há projetos de resort naquela orla, ou nas atividades da World Liberty Financial, empresa da família do presidente que vende criptomoedas. A política externa americana se tornou, assim, uma simples extensão dos seus interesses comerciais.
É nesse cenário que se insere a recente ameaça do presidente Donald Trump de impor uma tarifa de 50% ao Brasil, sob o pretexto de represália política pela tentativa de distanciamento do governo Lula como aliado tradicional dos EUA e de iminente prisão de seu aliado no Brasil, o ex-presidente Bolsonaro.
A chantagem geoeconômica, justificada com termos nacionalistas, revela a fusão entre interesse privado, tecnologia e política imperial, típica do que Biden chamou de “complexo industrial-tecnológico”.
Mas é importante frisar que essa fusão não representa uma degeneração, e sim a forma contemporânea da própria dominação capitalista: um sistema que, ao dissolver os limites entre Estado e mercado, transforma toda forma de política em administração tecnocrática de crises insolúveis.
Nesse sentido, verificamos que o indivíduo burguês — antes simultaneamente cidadão e ator econômico — agora tem sua identidade diluída: O componente político (Cidadania) perde relevância frente à lógica econômica, resultando num sujeito “totalmente abstrato” incapaz de mediação social.
Nesse sentido, verificamos que o indivíduo burguês — antes simultaneamente cidadão e ator econômico — agora tem sua identidade diluída: O componente político (Cidadania) perde relevância frente à lógica econômica, resultando num sujeito “totalmente abstrato” incapaz de mediação social.
Essa cisão revela uma “esquizofrenia estrutural” entre razão instrumental (econômica) e racionalidade política ou social. Essa inversão estrutural representa o colapso da polaridade mercado versus Estado, marcando o “fim da política” como campo autônomo de decisão e democratização.
Dessa forma, a própria jurisprudência de ordenamento do capital, os tratados de comércio, os tribunais internacionais e a própria ONU perdem qualquer significado, imperando a lei da força da barbárie generalizada.
O Brasil, nesse tabuleiro, não é sujeito, mas sim objeto.
O Brasil, nesse tabuleiro, não é sujeito, mas sim objeto.
As relações diplomáticas, os acordos comerciais e as escolhas políticas internas tornam-se reféns da volatilidade dos capitais e dos humores do império em crise.
A tentativa de Trump de usar tarifas como arma geopolítica reafirma que, sob a lógica do valor global, a política externa é somente um prolongamento da guerra econômica por outros meios — e os governos locais, sobretudo na periferia, operam como executores terceirizados do capital transnacional.
Vejamos que aqui não se leva em consideração se a aplicação de tal política tarifária irá prejudicar o comércio entre segmentos econômicos do próprio EUA e do Brasil.
Vejamos que aqui não se leva em consideração se a aplicação de tal política tarifária irá prejudicar o comércio entre segmentos econômicos do próprio EUA e do Brasil.
Contratos serão desfeitos e empregos irão desaparecer, de lado a lado , se houver retaliação .
Mas, isto não interessa. O que prevalece são os objetivos imediatos das famílias que detém o poder, tanto do lado americano , quanto da família Bolsonaro que não teve o menor pudor de colocar seus interesses imediatos em primeiro lugar . Mesmo que isto afete compatriotas seus .
Queremos advertir aqui que será um erro se ficarmos observando esta crise somente dentro da ótica dos atores nela envolvidos: O governo Trump e as ações de retaliações do governo Lula . Temos que olhar além das aparências. É preciso constatar que os governos nacionais deixam de ser capazes de formular ou de impor alternativas reais, pois estão submetidos à lógica do lucro global, provocando competição entre Estados por benefícios e empresas, com consequências sociais e ambientais negativas.
Queremos advertir aqui que será um erro se ficarmos observando esta crise somente dentro da ótica dos atores nela envolvidos: O governo Trump e as ações de retaliações do governo Lula . Temos que olhar além das aparências. É preciso constatar que os governos nacionais deixam de ser capazes de formular ou de impor alternativas reais, pois estão submetidos à lógica do lucro global, provocando competição entre Estados por benefícios e empresas, com consequências sociais e ambientais negativas.
Não existe aqui interesse de Estado e sim os interesses imediatos da trupe que está no poder.
Assim, o “fim da política” não é uma metáfora, mas uma constatação: As formas modernas de governo — democracia, soberania, representação — foram esvaziadas de conteúdo histórico, tornadas obsoletas pela própria autonomização do capital. As oligarquias a que Biden se refere são somente os rostos visíveis de um processo estrutural, no qual a política já não decide, somente gerencia o inadministrável.
A única alternativa real, como apontamos sempre, no Blog Utopias Pós Capitalistas, não é o retorno a formas idealizadas de política democrática, que já não cabem mais, mas uma ruptura radical com as formas sociais fetichistas que sustentam o capital — o próprio Estado em decomposição, a mercadoria, o dinheiro, o trabalho abstrato.
Assim, o “fim da política” não é uma metáfora, mas uma constatação: As formas modernas de governo — democracia, soberania, representação — foram esvaziadas de conteúdo histórico, tornadas obsoletas pela própria autonomização do capital. As oligarquias a que Biden se refere são somente os rostos visíveis de um processo estrutural, no qual a política já não decide, somente gerencia o inadministrável.
A única alternativa real, como apontamos sempre, no Blog Utopias Pós Capitalistas, não é o retorno a formas idealizadas de política democrática, que já não cabem mais, mas uma ruptura radical com as formas sociais fetichistas que sustentam o capital — o próprio Estado em decomposição, a mercadoria, o dinheiro, o trabalho abstrato.
Enquanto isso não ocorre, os Trump e seus aliados locais, como Bolsonaro e aqueles que o seguem, continuarão a encarnar essa fusão tóxica entre mercado, autoritarismo e ressentimento, enquanto o planeta e a democracia seguem desmoronando sob a tirania do valor.