
O Brasil é um país profícuo em bons escritores e, a partir dos anos 1970, muitos investiram nesse tipo de narrativa, dando a ela notoriedade. O conto tem lá suas prerrogativas. A verborragia precisa dar lugar à concisão numa trama que precisa envolver e – tanto melhor – surpreender o leitor. Tais predicados são cumpridos com competência em “Depois de tudo”, Editora 7 Letras, quinto livro do escritor Jairo Carmo. A coletânea reúne 14 estórias bem elaboradas e estruturadas que, juntas, atestam a vocação do autor à concisão narrativa – uma das marcas do conto. A obra chega às livrarias esse mês.
No conto “Quarto de casal”, as personagens discutem sobre o comprometimento de cada um com as tarefas domésticas e os compromissos familiares. A mulher, lá pelas tantas, externa seu desconforto com o tanto de livros pela casa. “Sou um adúltero literário”, reconhece o marido. O escritor é, antes de tudo, um leitor voraz, e a frase pode muito bem ser aplicada a Jairo Carmo. Mas atenção à ressalva: o adjetivo adúltero não deve ser entendido no seu sentido literal, de traidor, mas no sentido de alguém que anseia novas experiências, tal e qual o leitor deseja novas aventuras. Sob este aspecto, o autor aventura-se por diferentes estilos de narrativas, todos elaborados e, o melhor, num resultado surpreendente.
As duas estórias que abrem a coletânea tratam da relação entre avô e neto(a) sob diferentes perspectivas. Na primeira delas, “Aquarelas de macaquinhos”, cabe ao avô narrar a trama, na qual misturam-se reminiscências da sua vida ao olhar sobre as diferenças entre as duas infâncias . Em “Fim de tarde com vovô”, o avô narra episódios aos netos, dos quais um deles conduz a narrativa. E a trama abre espaço a uma marca que se fará presente em outros contos: a da narrativa que abarca narrativas outras.