
Capa do livro “Lina Bo Bardi Designer, O Mobiliário dos Tempos Pioneiros 1947- 1958” (Foto Thomas Scheier)
A obra da arquiteta que revolucionou o conceito modernista no Brasil ganha uma edição de luxo com o livro “Lina Bo Bardi Designer, O Mobiliário dos Tempos Pioneiros 1947- 1958”. O projeto, em edição bilíngue, português e inglês, é do curador e galerista Sergio Campos, e foi lançado pela Artemobilia Publicações.
Um presente especial para quem ama design e arquitetura. Afinal, a italiana que se naturalizou brasileira e escolheu São Paulo para viver, deixou marcas inconfundíveis na cidade, como o prédio do Museu de Arte de São Paulo, MASP, na Avenida Paulista, 1958, e o Sesc Pompeia,1982, grande centro cultural idealizado a partir da estrutura de uma antiga fábrica. Hoje é referência mundial para a história da arquitetura na segunda metade do século XX.
Nas 356 páginas do primeiro volume – sim, porque o segundo já está previsto para 2023-, o autor fez uma pesquisa que começou em 2013, durante os preparativos para a exposição homônima no Instituto Bardi/Casa de Vidro, em São Paulo, que integrou as comemorações do centenário de nascimento de Lina em 2014. A sua residência modernista, de 1951, construída numa das colinas mais altas do Morumbi, Zona Sul paulistana, se transformou em lugar de encontros com grandes personalidades daqui e do exterior.
A obra da multifacetada arquiteta está exposta através de farta documentação escrita e fotográfica, assim como a riqueza e o pioneirismo conceitual da produção de design de mobiliário, que desde sua primeira criação, a cadeira MASP 7 de Abril, influenciou decididamente a primeira geração de designers modernos. Sergio Rodrigues, a admirava, e certa vez disse em depoimento a Sergio Campos: “Pode escrever aí xará, a Lina foi a primeira estrangeira que vestiu a alma com a camisa brasileira”.
Desenhada em 1947 para ser usada em um pequeno auditório da primeira sede do Museu de Arte de São Paulo, que ela ajudou a fundar, juntamente com seu marido, o marchand Pietro Maria Bardi, e Assis Chateaubriand, a cadeira MASP 7 de Abril já traz elementos da nossa cultura popular, como o assento em couro de sola selvagem costurada com barbante, à moda das roupas dos sertanejos, dobrável e empilhável, assim como as cadeiras dos circos itinerantes. Ela se apaixonou pela cultura popular e isso acabou sendo uma das principais influências de seu trabalho, um diálogo entre o Moderno e o Popular.
Visionária, os móveis diferiam de tudo que já havia sido produzido no Brasil e no mundo, e eram encomendados por clientes e arquitetos também visionários como Vilanova Artigas, Rino Levi e Gregori Warchavchik.
Ela usava materiais totalmente inusitados na concepção de muitos dos seus móveis, como sola de couro selvagem, cordas náuticas, conduítes elétricos, cunhas de carro de boi, compensado de pinho, entre outros. O livro mostra como esta atitude influenciou os designers contemporâneos, como os geniais Irmãos Campana.
O segundo volume do livro, a ser lançado em 2023, vai mostrar o mobiliário que Lina Bo Bardi criou para sua Casa de Vidro, em 1951, com destaque para a internacionalmente famosa Bowl Chair, também chamada por Lina como “Tijela”, bem como os móveis que desenvolveu no período em que viveu na Bahia e aqueles especialmente desenhados para o Sesc Pompeia.
Em 2021, ela se tornou a primeira brasileira consagrada com o prêmio Leão de Ouro, na 17ª Mostra Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza, distinção póstuma pelo conjunto de sua obra como arquiteta, designer, editora literária, curadora de arte e ativista que destacava o papel do arquiteto como construtor de visões coletivas.
Muito adiante de seu tempo, Lina Bo Bardi desafiou as convenções e se tornou um ícone por seu pioneirismo conceitual. Uma mulher que se impôs pela ousadia de criar com sensibilidade grandiosa!
Fotos Sergio Campos e Thomas Scheier