
Pátio do Colégio
Quando eu era pequeno, adorava ouvir um programa de rádio – acho que na Rádio Bandeirantes. Nem era exatamente do programa, mas da música de abertura que tocava todos os dias que eu gostava. Era de manhã bem cedo, meu pai já tinha saído pro trabalho e eu me enfiava na cama com minha mãe e ouvia a rádio tocar:
“Vambora, vambora! Tá na hora, vambora!… A cidade não desperta, apenas acerta a sua posição…”, e a música seguia homenageando São Paulo e estimulando a população a sair da cama e seguir para o trabalho. Eu parecia saber que era feliz porque não precisava acordar, nem sair da cama e nem trabalhar. Só ficava ali, cutucando o pescoço na minha mãe. Ela tinha uma pintinha minúscula abaixo do queixo que eu adorava mexer.
Pois bem: hoje São Paulo completa 469 anos e, como todos os anos, é feriado por lá. Muita gente pode dormir até mais tarde e aproveitar as festas que a cidade oferece aos seus cidadãos.
Outro dia me dei conta de que já sou mais carioca que paulista, já moro há mais tempo no Rio do que em São Paulo, mas eu sou de lá e gosto de ser de lá. Toda a minha existência, para o bem ou para o mal, foi fundamentada, estruturada e solidificada ali. Quase todas as minhas qualidades e defeitos foram construídas na capital paulista, onde nasci, cresci e desvendei o mundo.
A cidade tem defeitos? Oh, se tem! Muitos? Vixi, muitos! Mas a cidade, talvez por sofrer forte influência da imigração europeia e oriental no pós-guerra, tem uma personalidade voltada para o resultado, inclusive para um comportamento mais conservador nos costumes – mas nem tenho certeza disso.
O fato é que sempre acreditei que a geografia de um lugar influencia muito na construção do caráter desse lugar. Veja a Bahia, por exemplo: um calor descomunal, uma paisagem deslumbrante…isso faz as pessoas andarem mais devagar, faz as pessoas executarem suas tarefas mais lentamente. No Rio, a coisa é mais ou menos igual: deu praia? Que tal a gente marcar nossa reunião pra depois de um mergulho, que tal? As pessoas andam menos vestidas por causa do calor e isso quase que obriga a turma a cuidar mais do corpo, afinal, não dá pra sair por aí exibindo uma pança descomunal. Eu saio por aí. Dane-se! Eu sou paulista…
São Paulo não tem praia, então – me parece – o pessoal é mais focado.
Eu vivi 30 anos em São Paulo e já moro no Rio há 34, mas ainda há coisas com as quais não me acostumo. Ainda guardo em mim muito do espírito paulista.
São Paulo, a gigante metrópole, merece gente que cuide dela com respeito.
Parabéns, minha São Paulo!
Que seu novo ano seja feito de muito trabalho, amor por seu povo – e que seu povo alimente a cidade de amor – e muitas coisas boas. Toda vez que vou a Sampa, “alguma coisa acontece no meu coração…”.
Aqui de longe, eu sei que a cidade nunca desperta mesmo, apenas acerta a sua posição.
Foto Luis Blanco /A2IMG