
Nascido em Portugal, em 1978, Rodrigo Areias começou cedo no mundo audiovisual, e vem colecionando filmes, prêmios e parcerias. É comum vê-lo capitaneando vários projetos ao mesmo tempo. Isso lhe concedeu a alcunha de “O homem das mil produções”, como estampou o site 7Cinema. Afinal, são mais de 150 produções, entre direção e produção, em duas décadas dedicadas ao cinema de invenção e a criação da produtora Bando à Parte. Recentemente esteve no Brasil, na Mostra SP de Cinema, como um dos jurados da Mostra. Aproveitei sua passagem por aqui e conversei com ele que falou sobre sua formação, filmes, parcerias e vida familiar.
JP – Fale um pouco de sua formação e de sua lista de produções.
Estudei som e imagem na Universidade Católica Portuguesa e, mais tarde, me especializei em realização na Escola de Artes Tisch, da Universidade de Nova York. Na lista de produções e coproduções tenho filmes de cineastas como Edgar Pêra, João Canijo e F.J. Ossang.
JP – Você foi responsável pela produção de cinema do evento Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura?
Sim, dirigi, entre outros, os longas-metragens “Tebas” (2007), “Estrada de Palha” (2012), “1960” (2013), “Ornamento e Crime” (2015), “Hálito Azul” (2018), “Surdina” (2019) e “Vencidos da Vida” (2020).

“Tenho desenvolvido ao longo da carreira trabalhos criativos na área de cinema de autor em ficção e documentário, alternando com outros trabalhos em domínios de video-arte e vídeo-clipes para alguns dos melhores nomes da cena rock Portuguesa (The Legendary Tiger Man, Wray Gunn, Mão Morta, Sean Riley, D3o, etc.) e diversos outros projetos”, revela.
Como produtor começou a sua carreira em 2001 e desde então produziu e coproduziu mais de 70 curtas, longas, vídeos e documentários. Produziu autores de renome como Edgar Pêra, João Canijo e F. J. Ossang, bem como jovens realizadores como André Gil Mata, João Rodrigues e Jorge Quintela.
JP – Como foi sua parceria com o prestigiado escritor Valter Hugo Mãe?
Foi em 2009, acho eu, que li o ‘O Remorso de Baltazar Serapião’ do Valter. E contactei-o. Disse-lhe que tinha gostado muito do livro e queria pensar num projeto em conjunto. Ele respondeu-me entusiasmado. Eu estava na sessão do filme ‘Corrente’, quando foi a estreia do filme em Vila do Conde, no ano em que ganhei o prémio do público e da competição nacional. Ele estava lá. Eu não o conhecia pessoalmente, e ele disse-me: Estive na tua sessão, adorei o teu filme. Bora lá fazer um filme.
JP – Como foi a questão da coincidência da origem familiar do Valter, quer materna, quer paterna, que são de São Cristóvão de Selho, freguesia de Guimarães, que é retratada no filme “Surdina”?
Ele levou-me lá, e eu levei-o ao centro histórico de Guimarães para apresentar aquelas velhinhas que me conhecem desde que nasci. E a casa do arco, onde ia muito em miúdo, um espaço pelo qual sempre tive um fascínio. O Valter escreveu-me a história e enviou-me. Houve ligeiras alterações, poucas e durante o processo de rodagem.

“Um filme que trata da velhice, tem um lado cómico, tem o lado rural, meio popular”, descreveu. O filme também teve exibições com concertos onde a trilha sonora foi executada ao vivo.
JP – Seu trabalho sempre teve vínculos com o cinema brasileiro. Seus filmes sempre estiveram presentes na Mostra SP. Como é isso?
É sempre importante estar no Brasil e fazer parte do evento – em 2022 consegui participar como jurado, já que em outras oportunidades meus filmes estavam participando da mostra competitiva do festival. É sempre um grande orgulho e prazer estar na Mostra de São Paulo. Não só enquanto diretor – os meus oito longas estiveram presentes, primeiro em competição, e depois como diretor convidado a apresentar os filmes -, mas também como produtor, já que temos filmes convidados todos os anos. É para nós um festival muito importante, não só porque é a nossa entrada privilegiada no mercado brasileiro de distribuição cinematográfica, mas também dada a relação entre Portugal e Brasil, e a forte cooperação e coprodução entre os dois países. Coprodução que tem estado interrompida face às alterações de política cultural no passado recente no Brasil, mas que acredito que mudará em breve. E como tal, estarei sempre interessado em continuar a coproduzir com o Brasil.
Aos 22 anos possui uma marca importante: como produtor e diretor tem ao longo da carreira mais de 25 filmes, entre documentários e ficção. Um dos aclamados filmes de 2021, “Listen”, longa de drama dirigido por Ana Rita Rocha e produzido pela Bando à Parte, foi vencedor de quatro prémios na 77.ª edição do Festival de Veneza (2020),
o filme venceu o prémio ‘Leão de Futuro’.
JP – E como estão seus projetos atuais?
Estou debruçado nos projetos da minha produtora, a Bando à Parte, inclusive com produção e coprodução com o Brasil. Estamos trabalhando no filme “Cinco da Tarde”, de Eduardo Nunes, um grande amigo e um grande cineasta brasileiro. Os meus 9º e 10º longas como diretor estão em pós-produção neste momento e irão estrear no próximo ano, são “O Pior Homem de Londres”, produzido por Paulo Branco, e “A Pedra Sonha dar Flor”, a partir da obra de Raul Brandão. Iremos ainda estrear os novos filmes de Edgar Pêra e Artur Serra Araújo, e estamos a produzir os novos filmes de Latifa Said, Angelo Torres, Jorge Quintela, Lois Patiño e Matias Piñeiro.
Vale a pena procurar por seus filmes. No site da produtora Bando à Parte há informações para estreitar o laço entre o cinema português de qualidade e a produção brasileira.