
Com que cara?
Participava de uma festa literária no interior.
Conterrânea comprou livro meu, num dos estandes, e se aproximou enquanto eu tomava um café:
— O senhor que escreveu esse livro?
— Foi.
— É escritor, é?
— Sou.
E ela, torcendo o nariz:
— Tem cara não…
Hot dog
Casal conhecido atravessava o Nordeste de carro. Parou à noite em Juazeiro da Bahia, às margens de São Francisco (ali de onde se avista Petrolina do outro lado) para fazer um lanche.
Encostaram num trailer de comidinhas e viram logo duas travessas em cima do fogão, uma com linguiça e outra com salsichas cozidas.
Ela pediu logo um cachorro quente. Rapaz que atendia não conversou: abriu o pão, tacou a linguiça dentro e entrou à freguesa.
Observando que uma cliente traçava iguaria semelhante, só que recheada com salsicha, resolveu questionar.
Pra quê?
Ó o diálogo:
— Eu preferia com salsicha.
— Mas a senhora pediu cachorro quente.
— Sim! Cachorro quente é com salsicha.
— É não.
— É sim!
— Aqui né não.
— Aquela moça ali está comendo um cachorro quente com salsicha.
— Tá não. O que ela tá comendo é hot dog!
Banana
No ponto de ônibus em frente à Rodoviária, em Feira de Santana, motoristas e cobradores matam o tempo falando bobagem, discutindo futebol, mexendo com passa.
E quem passa no momento é uma mocinha corajosa, rebolativo, decote bem generoso.
Bocão não se contém:
— Que lindos mamões!
A mocinha o surpreende, dando meia trava inesperada:
— Gosta de frutas?
O bobalhão tenta se equilibrar:
— Adoro.
E ela:
— Meu pai tem uma banana deste tamanho!
Alvo de chacota generalizada, Bocão ganhou novo: banana.
Fora
Foi numa festa junina de infância, encantado pela moreninha de vestido de chita florida e trancinha no cabelo, que levei o meu primeiro fora (outros vieram ao longo da vida, claro, mas o primeiro é sempre inesquecível).
Convidei a caipirinha para pular fogueira e se tornar compadres, “que São João mandou”.
E ela:
— E se eu cair nessas brasas?
— Cai não. Lhe seguro nos braços.
Olha a crueldade feminina como se manifesta desde cedo:
— Oxi! Você? Magrelim desse jeito?!
Papo de vizinhas
— Minha filha Laurinha disse que o sonho dela é casar virgem, toda de branco, de véu e grinalda, na igreja da Matriz.
— Só se for sonho mesmo, Dulce.
— Oxente, Candoca. Tá dizendo isso por quê?
— Porque virgem Laurinha não é mais nem no ouvido.
— Candoca!!!
— Que foi, Dulce? Eu disse alguma coisa que você não sabia?!
— Affffe, Maria… Pra que tanta sinceridade, criatura?…