
Fiquei me questionando muito a respeito dos últimos dias de exaltação ao dia da mulher, sejam eles de parabenização ou de lembranças de que a luta continua.
Fiquei pensando na mulher que eu sou e é essa mulher que vai ser referência para o meu filho. Um HOMEM que vai ser jogado na sociedade em breve, e que eu espero que leve algo do que estamos discutindo hoje. Então vamos falar da mulher que eu, minimamente, mais ou menos, conheço: eu.
Sim, eu tenho medo, muito!
Sou frágil na mesma proporção que um homem pode e é (e na minha concepção os permito ser). Sinto e recebo a pressão dos olhares a minha volta. Sou mulher e mesmo hoje imagino o “lugar” que esperam de mim. Passo por essa pressão todos os dias (mesmo que o yoga tenha me trazido mais leveza). Mas isso me atravessa! Me invade! E não tem saída…
Eu não sou guerreira e nem forte. Na maioria das vezes tô tentando me equilibrar entre acordar e representar ou esmorecer e adoecer (sinto que a maioria das pessoas está num dilema beeeem similar), embora, por minha característica singular, sempre opte por seguir.
Sigo com 3736382737 funções e fingindo que está tudo bem e que sou forte porque dou conta. Talvez essa seja a maior mentira do ser humano (e não só das mulheres que foram catequizadas a serem assim). Não! Não damos conta! É sobre-humano.
Queremos ser bem-sucedidas numa sociedade que não nos dá mérito. Queremos ser amadas numa sociedade que sempre nos coloca num lugar de servidão. Queremos ser destaque numa história que sempre nos colocou no lugar de coadjuvante. Queremos ganhar o equivalente ao nosso esforço numa sociedade que sempre montou em cima da nossa força de trabalho.
Mulher cuida
Mulher zela
Mulher protege
Mulher organiza
Mulher respira?
Quem tira da mulher o peso da gerência da sociedade?
Desde que eu nasci vejo mulheres.
Mulheres mal organizadas psiquicamente porque tiverem quase que compulsoriamente organizar a vida de todos a volta.
Não quero um olhar dependente de volta.
Quero igualdade. Não ter que gerenciar tudo e ainda ser uma mulher de bem ( e que seja o meu bem). Quero ser eu. Ser respeitada por ser eu e não ter que obrigatoriamente levar nada nas costas.
Quero não ter o peso de todos os dias avaliar, reavaliar e buscar alternativas sociais pra ser eu mesma. Não quero cuidar de “maridos”, nunva quis ser “mãe” ou cuidadora de nenhum adulto, não quero reprimir minha sexualidade porque ela não é aceita (ainda), não quero ser tirada como louca quando me expresso, não quero duvidar do meu corpo porque pelo estereótipo “ele pode não agradar” um homem, não quero não ter voz porque meu corpo desconcentra um homem, não quero me retrair intelectualmente, porque brilhar nunca foi um lugar permitido a mulher, não quero cuidar de uma sociedade quando tenho a nítida certeza de que ela não cuida de mim.
Quero ser eu, parceira de vida dos meus pares, independentemente do que tenho entre as pernas. Ser vista em pé de igualdade como um ser humano. Respeitando as diferenças (porque elas existem sim!). Mas quero mesmo é descobrir o que é ser mulher, hoje! E essa é minha luta singular, particular e de todas!
*Patrícia Morgado*
Psicóloga Clínica, instrutora de yoga, meditação, massoterapeuta e desenvolve um trabalho em prol da saúde mental, corporeidade/ psicossoma e desenvolvimento humano. Está em processo de especialização em psicologia Clínica, com ênfase em Gestalt Terapia e Mindfulness. Quarentona e mãe solo de uma criança de 5 anos.
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