
Quem fundou a Universidade de Brasília (UnB) foi o presidente Juscelino Kubitschek. É falso atribuir a Darcy Ribeiro a iniciativa da criação. Não tem amparo nos fatos. Nessa linha, equivocaram-se André Gustavo Stumpf(Correio – 24/04) e Márcia Abrahão(Correio- 25/04). Darcy foi o primeiro reitor, mas foi Juscelino Kubitschek quem determinou todas as providências para criá-la, incumbindo o ministro da Educação, Clóvis Salgado, que as levou a bom termo.
Quem se interessar por detalhes, pode consultar, na Biblioteca Central da UnB, além do depoimento de Cyro dos Anjos, ex-secretário particular de JK, também os relatos do ministro Clóvis Salgado e de historiadores da Universidade Federal de Minas Gerais(UFMG), com perto de 10 horas de gravações que integram o projeto “História Viva”, daquela universidade.
Destaco mais alguns fatos. O ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, Victor Nunes Leal, havia pedido demissão da chefia da Casa Civil de Juscelino. Sabia que o presidente queria a sua volta.
Chamado por JK para um encontro, passou antes pelo escritório do também ministro aposentado da Suprema Corte, Osvaldo Trigueiro, que depois confirmou essa história, relatando a preocupação de Victor Nunes Leal, que temia receber um convite irrecusável de Juscelino. Trigueiro aconselhou Leal a começar a conversa sugerindo a JK a criação de uma universidade em Brasília, para desviar o assunto.
Como o presidente, de início, não aceitou a ideia, Leal lembrou-lhe que o epitáfio escolhido por Thomas Jefferson, terceiro presidente dos Estados Unidos, e que consta da sua sepultura em Montebello, diz o seguinte: “Aqui jaz Thomas Jefferson, autor da declaração da independência americana, do estatuto da liberdade religiosa na Virgínia e pai da universidade de Virginia”, sem mencionar ter sido presidente dos EUA.
DECISÃO RÁPIDA – JK chamou Ciro dos Anjos e pediu-lhe que confirmasse a informação. E o escritor conseguiu fazê-lo com facilidade, ao consultar a Enciclopédia Britânica. O presidente, no mesmo instante, atribuiu a Ciro dos Anjos a incumbência de elaborar os atos de criação da UnB, cujo marco inicial foi o radiograma de JK ao ministro da Educação, Clóvis Salgado, datado de 2 de abril de 1960:
“Ministro Clóvis Salgado, a fim completar programa cultural nova capital não posso deixar de fundar a Universidade de Brasília portanto peço estudar plano e redigir mensagem a ser enviada ao Congresso tendo em vista desse objetivo pt precisamos porém criar universidade em moldes rigorosamente modernos pt gostaria remeter mensagem Congresso dia 21 abril ptsdsJK“.
O radiograma de JK coroou os esforços de seu ministro da Educação, Clóvis Salgado, de todos conhecidos e relevados no relatório quinquenal do MEC apresentado a JK em 31 de dezembro de 1960, em cujas páginas de números 286 a 295, no capítulo Universidade de Brasilia, estão todos os procedimentos que nortearam a criação da UnB estabelecidos pela comissão nomeada por Clóvis Salgado.
QUEM PARTICIPOU – A comissão era integrada, nessa ordem, pelo reitor da Universidade do Brasil, Pedro Calmon; pelo presidente do Conselho Nacional de Pesquisas, João Cristovão Cardoso; pelo Diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, Anisio Teixeira; pelo presidente da Comissão Supervisora dos Planos dos Institutos, Ernesto Luis de Oliveira Junior; pelo coordenador da Divisão de Estudos e Pesquisas Sociais do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, Darcy Ribeiro; e pelo diretor de Programas da Comissão de Aperfeiçoamento de Pesquisas de Nível Superior, Almir de Castro.
Cyro dos Anjos, nascido na cidade de Darcy Ribeiro (Montes Claros, Minas Gerais), incluiu o conterrâneo na comissão e sugeriu o nome dele para reitor quando não havia candidato a esse cargo e a UnB só existia no papel. Foi assim que aconteceu.