
Tô em Belo Horizonte já há 10 dias. Trouxe pra cá o meu monólogo “Pormenor de Ausência” que trata dos últimos anos do grande Guimarães Rosa. Teatro cheio, do jeitinho que atores gostam.
Estou hospedado numa posição privilegiada, ao lado da Praça da Liberdade, onde fervilham possibilidades culturais: museus, exposições, shows, tem cinema de arte aqui pertinho, o CCBB, o Memorial Vale, o Museu da Fiat, a Biblioteca, que foi justamente onde me encontrei com Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Hélio Pelegrino e Paulo Mendes Campos; tá aí a foto para provar.
A mineirada é gente muito boa. Parecem um tanto reservados demais, no começo, mas quando pegam confiança, o coração se solta e nos abraça com carinho.
“É junto dos bão que nóis fica mió!” – diziam esses grandes com quem tirei a foto na biblioteca.
Todos os dias eu saio do hotel pra dar uma volta. Vou andando pelas ruas, sem destino, apenas para sentir o clima. Aliás, os dias têm sido lindos, brilhantes e acolhedores, bons pra caminhar. Essa semana fui conhecer o Mercado Central da cidade. Acredito que o Mercado Central de todas as cidades revelam muito da personalidade e da Cultura de seu povo. O Mercado Central de BH é lindo. Muito gostoso circular pelos seus corredores sentindo os aromas, olhando toda aquela infinidade de possibilidades gastronômicas e as lojinhas que nos oferecem quase tudo. Como gosto de cozinhar, enlouqueço com as panelas, as canecas de ágata, toda uma variedade de utensílios que adoraria exibir na minha minúscula cozinha.
Ah, e as cachaças, claro! Muitas e muitas cachaças. Embora não beba, gosto sempre de ter uma cachaça em casa. Tenho amigos que apreciam e gosto de vê-los em casa conversando e tomando uma boa caninha. Vez ou outra, alguém sai de casa trançando as pernas, feliz da vida.
Agorinha mesmo, voltando ao hotel, me deparei com um cidadão passado dos setenta, de bermuda cargo, se escondendo atrás de uma pilastra. Ele tirou rapidamente do bolso lateral da bermuda uma daquelas garrafinhas portáteis que ainda estava cheinha. Ele abriu e deu um bom gole bem na hora em que eu passava. Eu fiz uma cara de cumplicidade, ele sorriu como um adolescente e me indicou que estava bebendo escondido da mulher, que o esperava mais adiante no saguão. Rimos os dois. Ele, feliz por estar dando uma calibrada. Eu, sorrindo, certo de que aquela garrafinha acabaria logo e que o cidadão da bermuda cargo ia ter um dia divertido.
Junto dos bão vão nóis fica mió mesmo.