
Anna Bella Geiger , Luiz Aquila e Luiz Pizzarro
Era o réveillon de 1979 para 1980 e Luiz Aquila vibrava com a chegada da nova década. Ele atribuía ao número oito, “redondo e também símbolo do infinito”, mas, conscientemente ou não, pairava um forte otimismo motivado pelo fim da ditadura, que estava prestes a chegar.
Numa data especialmente redonda, quando celebra seus 80 anos, Aquila, que é considerado um dos pintores mais ativos de sua geração, inaugura “Em Torno dos 80”, exposição memorável que será marcada por reencontros afetuosos e significativos. A abertura aconteceu no dia 26 agosto e homenageia o mestre com a participação de artistas que com ele conviveram no Parque Lage na década de 80, justamente no período em que houve uma retomada da liberdade de expressão – especificamente na pintura, em termos plásticos.
A proposta curatorial envolve cerca de 30 nomes fundamentais na história da arte brasileira, com obras pertencentes a coleções deles próprios e privadas. Adriano Mangiavacchi, Ana Durães, Angelo Venosa, Anna Bella Geiger, Alexandre Dacosta, Beatriz Milhazes, Clara Cavendish, Claudio Kuperman, Cristina Canale, Cristina Salgado, Celeida Tostes, Daniel Senise, Jeannette Priolli, João Magalhães, John Nicholson, Jorge Guinle, Luiz Pizarro, Manfredo de Souzanetto, Monica Barki, Malu Fatorelli, Nelly Gutmacher, Ronaldo do Rego Macedo, Rubens Gerchman, Suzana Queiroga, Victor Arruda e Xico Chaves estão expondo seus laços afetivos e a importância de Aquila como incentivador da criação na pintura na década de 80, em particular na Escola de Artes Visuais do Parque Lage – instituição onde lecionou a partir de 1982 e atuou como diretor de 1988 a 1992.
“Minha passagem pelo Parque Lage nos anos 1980 foi a experiência mais profícua e prazerosa que obtive de um trabalho em grupo. Tanto o trabalho com os alunos como professor – na verdade, fui mais um professor-orientador de um ateliê do que um professor no sentido convencional -, como no convívio com os colegas. Nessa época todas as salas se comunicavam viradas para o entorno da piscina, então havia uma facilidade de saber o que os colegas estavam criando. Os encontros na cantina eram um verdadeiro seminário de arte e de discussão, sobre política, inclusive. Ao contrário da faculdade, a EAV só tinha o ‘miolo’ bom. Concentrava a parte criativa, investigativa voluntária e o prazer de luta pela própria Escola. Foi um período maravilhoso e eu tive muita sorte de estar lá dentro”, relembra o mestre.
“Queremos evidenciar a obra de Luiz Aquila na reformulação da NPB (Nova Pintura Brasileira) e o seu protagonismo como orientador de uma nova e brilhante geração de artistas, surgidos nos anos 80, no início da redemocratização do país”, completa a curadora, Monica Xexéo.
Fotos Marco Rodrigues