
Meu convidado dessa semana nasceu em Duas Barras, no interior do estado do Rio de Janeiro, foi militar, mas seu destino estava traçado nas estrelas. Martinho José Ferreira, o nosso queridíssimo Martinho da Vila tem 85 anos, é ‘Doutor Honoris Causa’, concedido pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), é escritor – autor de vários livros -, compositor e um dos maiores cantores da nossa história. Carrega no coração sua Vila Isabel – escola e o bairro onde viveu muitos anos -, ama sua religião, sambista consagrado, um dos maiores de todos os tempos, intelectual da lusofonia, profundo conhecedor da cultura popular brasileira, escritor, contador de histórias, pescador, filho de Mãe Teresa, parceiro de – dentre tantos – Candeia, Zé Katimba e Beto Sem Braço. Confira nosso bate-papo!
JP – Martinho você é natural de Duas Barras, interior do Estado do Rio de Janeiro. A Duas Barras do tempo em que você nasceu ainda se mantem viva, ou a modernidade trouxe transformações?
O centro da cidade de Duas Barras permanece intacto.
JP – Ainda jovem você veio para a cidade do Rio de Janeiro, mais precisamente para a Serra dos Pretos Forros. Naquele local em tempos de outrora os negros alforriados ou os fujões buscavam abrigo e formavam quilombos. Era um espaço da resistência negra. Foi ali que você cresceu. Você encontrou naquela localidade essa marca da resistência negra ainda presente?
Na Serra dos Pretos Forros, lugar também chamado de Morro da Boca do Mato, a resistência era através das manifestações populares: folias de Reis, ladainhas caseiras, cantoria de calangos. Era um lugar muito alegre e tranquilo, mas hoje o morro está muito mudado.
JP – E o seu período de “sargento burocrata”? Qual foi a importância da instituição militar na sua vida?
Esta pergunta pode ser respondida ouvindo a música Linha do Ão. Eis o verso da canção: “Treze anos de caserna, me deram boa lição…”.
JP – Quando você migrou para a música? Por que a escolha para ser cantor e compositor?
Migrei para a música profissional em 1958, ao gravar Casa de Bamba, um dos meus grandes sucessos.
JP – Você sempre teve um olhar atento para os povos africanos, como por exemplo o povo angolano. Você tem acompanhado o processo de afirmação desse povo africano?
Sim. A África é emergente e o Presidente Lula esteve por lá e pretende incentivar o intercâmbio cultural e econômico.
JP – Como você observa o lugar dos cantores negros no Brasil? A música cantada pelos negros é valorizada em nosso país?
É muito valorizada realmente. O samba é um dos símbolos do Brasil. Todos os principais intérpretes da MPB cantam samba.
JP – Lá se vão 35 (trinta e cinco) anos do desfile de Kizomba, a Festa da Raça. Qual foi o legado daquele desfile?
Depois que a Vila apresentou Kizomba, a Festa da Raça, temas referentes à negritude estão sempre presentes nos desfiles das escolas de samba.
JP – Dos seus grandes sambas de sucesso, qual foi aquele que selou a sua carreira como o “Grande Martinho”? Ou foi o conjunto da obra?
Meu nome é marcante, como cantor de sucesso, pelo conjunto da obra.
JP – E o seu último álbum Ópera Negra! Quais são as novidades que você nos traz?
O álbum Ópera Negra é uma novidade na discografia brasileira, segundo alguns críticos. Como meus discos são sempre muito alegres, busquei realizar algo diferente. Fiz a minha ópera, com uma boa dose de dramaticidade. E negra, porque as músicas são fundamentalmente ligadas a questões negras, os músicos são praticamente todos negros.
JP – Quais são os seus projetos futuros?
Estou trabalhando na elaboração de um álbum a ser lançado no próximo ano, intitulado Martinho, Violão e Cavaquinho. Lançarei também um livro autobiográfico ficcional, no qual o artista Marinho da Vila conversa com o cidadão Martinho José Ferreira.