
Formado em Medicina e Teatro, Henri Pagnoncelli ficou marcado pelos papéis de vilões nas novelas “Mulheres de Areia” (1993) – como o vilão César Queiróz, “Laços de Família” (2000) e “O Rico e Lázaro” (2017). Recentemente esteve na macros série “Jezabel”, na qual interpretou Emanuel, um homem rígido, mas bondoso, que se preocupa com a Sobrinha Leah, por sua paixão por Levi um Jovem que vende estatuetas de deuses pagãos mas não acredita neles. Henri também em seu currículo o Cinema e o Teatro. Atualmente está em cartaz com a peça “Caim”, adaptação do texto de José Saramago. Paralelo o toda a carreira artística, ainda exerce a função de médico.
JP – Henri, você está em cartaz com a peça Caim, texto de José Saramago adaptado para os palcos. Como surgiu o projeto?
O Caim é o último livro do José Saramago. Ele escreveu em 2009. Eu li entre os anos de 2010 e 2012. A minha esposa Teresa Frota também leu, e fez a adaptação e a dramaturgia. Passou um tempinho, a Teresa disse que o livro dava teatro. Eu disse que ela estava doida. Contar a história do Gênesis inteiro, levar ao palco centenas de personagens e situações que rondam o imaginário de tanta gente. Ela disse que dava para fazer um monólogo. E, eu continuava dizendo que ela estava doida. A partir da insistência dela, começamos a trabalhar, trabalhar, trabalhar…

JP – Caim é um texto literário. Como foi o processo de adaptação do texto literário para adequá-lo aos palcos?
A adaptação é um processo livre. Porque aí entra a capacidade da Teresa. O original é o Saramago contando a história de Caim revisitando o Gênesis. E nós tivemos a ideia de fazer Caim contando a sua própria história. É uma adaptação e não há uma palavra que não seja do Saramago. Contudo, ela não ficou restrita aos enredos oferecidos pelo romance. Desenvolveu uma longa pesquisa e decupou horas de entrevistas dele, coisas que ele falou. Coisas pertinentes ao que ele falou e que eram pertinentes ao que nós estávamos adaptando e fomos colocando estrategicamente no texto. Ficou uma adaptação maravilhosa, super atual, muito bacana. Foi um processo que nós começamos a fazer com uns amigos, a direção. Está sempre em andamento, atualizando.
JP – Você é carioca. Como foi a sua infância? Sua família? Onde você estudou?
Eu sou carioca, natural do Rio de Janeiro, nasci no Leme. Praia, futebol, coisas gostosas do Rio de Janeiro. Zona Sul. Depois fui estudar no colégio São Bento. A seguir passei na Faculdade de Medicina de Petrópolis. E foi lá que comecei a fazer teatro.
JP – Você é médico e ator. Como você concilia as duas profissões? Como foram dados os seus primeiros passos como ator? Onde se deu a sua formação?
Então, eu iniciei a faculdade de Medicina em Petrópolis. E, na faculdade, me encantei com o teatro e fiquei louco total. Me juntei ao grupo de teatro da faculdade. E estudava, estudava, estudava, estudava. Paralelamente, eu fui desenvolvendo e fui fazendo teatro amador. E, a primeira peça profissional foi em 1976, Esperando Godot. E foi o ano em que eu formei. Faz as contas para ver quanto tempo tem de profissional. Mas, foi em 1972, que eu comecei a fazer a primeira peça. Tenho 51 anos por aí. Eu sempre fui levando as duas paralelas. A vida de ator e a de médico. Quando me formei, estava indo mais para a área de doenças infecciosas e parasitárias. Depois eu fui fazendo coisas menos barra pesada, que não exigia eu estar no plantão. E comecei a viajar com o teatro. Depois me especializei em dermatologia e medicina estética.
JP – Como se deu o seu ingresso na Rede Globo de Televisão?
Eu fazia muitos comerciais para a TV. Um deles foi dirigido pelo Valter Avancini. Ele gostou do meu trabalho. E me levou para fazer Selva de Pedra.
JP – César! Em Mulheres de Areia você interpretou o vilão que rendeu o maior sucesso. Como foi interpretar o personagem? Há algum outro personagem que te marcou nas diversas novelas que você atuou?
Mulheres de areia foi um convite do Wolf Maia. Personagem maravilhoso. Elenco maravilhoso. Aprender a somar e trocar ideias. Foi muito legal. Sucesso enorme. Eu gosto de fazer vilões. Mostrar mais facetas do ser humano. Adoro fazer Vilões. Laços de Família, com o personagem Orlando; O Rico e o Lázaro, com o personagem Chaim.
JP – Para você, o que é ser um ator? Qual é a função que o ator deve cumprir?
Eu adoro atuar. Você como ator, como artista é um ser da sociedade que tem essa função, dever, obrigação de traduzir os sentimentos do ser humano, ajudar o ser humano a se conhecer, despertar a curiosidade no espectador, no povo, participar da formação cultural de um povo. Isso é de uma importância gigantesca para uma nação, para a humanidade. A função do ator é fundamental para a formação de um povo.
JP – Se eu fosse te situar numa geração de atores e atrizes, em qual geração poderia lhe localizar? Quais outros atores e atrizes despontaram junto com você?
Eu pertenço a uma geração que tive o privilégio de ver um Rubens Corrêa, uma Fernanda Montenegro interpretar. Isso é um aprendizado gigantesco para a sua formação. Tive esse privilégio de participar de todo esse movimento de teatro.
Minha geração, se eu for citar, serei injusto.
JP – Quais são os seus projetos futuros? E, para finalizar, deixa uma mensagem para os futuros atores e atrizes que ainda estão por despontar.
Quanto aos projetos futuros, eu ainda tenho muitas apresentações do Caim por fazer. E tem um texto novo, uma adaptação que a Teresa fez, mas que ainda não posso revelar.
Como mensagem digo para estudar. Estudem. Muita paixão. Muita dedicação. Só assim irão conseguir vencer. Vá ao teatro. Vejam os clássicos.