
Desde sua estreia em 2016, The Crown consolidou seu papel entre os grandes títulos disponíveis no portfólio da Netflix. Cobrindo inúmeros acontecimentos marcantes de gerações dos Windsor a partir da morte de Jorge VI, a série atravessa décadas de histórias que marcaram a realeza britânica. Entre coroações, nascimentos, matrimônios, desquites e funerais, tudo o que se sabe e o que não se notara antes, foi acomodado até aqui. Ou ao menos foi tentado, ao longo de seis temporadas. Buscas online se tornaram recorrentes, a cada novo capítulo, a procura de informações sobre os fatos relatados. Parte da repercussão dessa produção, se sustenta muito, na verificação de diversos eventos mostrados a cada episódio, especialmente, os mais íntimos, no interior do Palácio de Buckingham. Tudo o que se passou na vida daquela que se tornou a monarca mais longeva da história do Reino Unido, se confirmou ser ainda de muito interesse de um público que segue se renovando. Ao redor do mundo, muitos ainda estão atentos a tudo que envolve a família real inglesa.
No papel principal, três atrizes se revezaram até aqui, dando vida a uma Elizabeth que viu de seu castelo, alguns dos momentos mais marcantes da história. Claire Foy teve sua estreia para um grande público dando vida a ainda princesa, recém-casada, que logo se tornaria rainha. Sucedida por Olivia Colman, uma das atrizes mais prestigiadas dos últimos anos que encarnou uma Elizabeth já avó. A sexta e última temporada tem a veterana Imelda Staunton vivendo uma monarca ainda resistente em ceder a um novo mundo que muda constantemente a sua volta e que assim continuará pelo tempo em que a Coroa repousar em sua cabeça.
Os últimos episódios atingem um dos momentos mais traumáticos dos entusiastas da monarquia. A morte de Lady Di expôs a família real de maneira inédita. Revisões de protocolos arcaicos foram impostas, forçando a realeza a se despir de condutas já não apreciadas de forma tão romântica, por seus súditos. Gestos mais humanos e de aproximação com o povo, foram cobrados pelo mundo. A imagem de todos no entorno da Coroa foi testada e levada a questionamentos, especialmente no território onde residem. A sombra dessa tragédia se faz presente em praticamente todos os últimos dez episódios. Do crescimento da popularidade do Príncipe William até o tão aguardado reconhecimento oficial da relação de Charles e Camilla Parker Bowles. Passando pela chegada de Kate Middleton e a partida de distintos membros da realeza. Os temas mais recorrentes ao longo de toda a série seguem na agenda da rotina de uma família hábil em ser impopular mesmo querida por tantos. A busca por mais aceitação de seus súditos só não é maior que a necessidade de acolhimento entre os membros da família.
Os tempos modernos não intimidaram Elizabeth ao longo de sete décadas. A defesa do estilo de vida e da importância da família real sempre estiveram fundamentadas na relevância de tradições seculares, pelo entendimento da própria monarca. Dessa forma ela defendeu e encarou o seu tempo com serenidade, ignorando os que ansiavam pelo fim de seu reinado.
A sexta temporada dá fim a história bem antes de eventos mais recentes que seguiram pautando o noticiário global. É notório que os capítulos finais forjam uma conexão forte com o último grande acontecimento da história da realeza britânica. Mas a rotina dessa família e de tipos associados a ela seguem a causar pelo mundo. Suas realizações e gestos estão destinados a permanecer nos tópicos mais falados na mídia. Só mesmo a curiosidade e o interesse do público, podem garantir que essa última dezena de episódios, de fato encerra a série. Um título como The Crown oferece material farto e quase eterno. É preciso saber terminar, mas diante da adaptação de uma história ainda em andamento, declarar o fim pode sempre parecer prematuro. Por mais emotivo e conclusivo que seja, esse final.