Uma dupla de brasileiros deu o que falar na 28ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-28), em Dubai. O evento, principal encontro para discutir questões climáticas no mundo, completa um mês nesta sexta-feira, 12, e, entre as resoluções e metas traçadas, o Brasil está no foco. Os paulistas Priscilla Zacharias e Adilson Velasco, que têm planos de entrar no mercado carioca de reciclagem de plásticos em breve, viraram os nomes da vez quando o assunto são os princípios ESG — conceito que reúne as políticas de meio-ambiente, responsabilidade social e governança — , essa consciência, aliás, é cada vez mais cobrado das empresas no Rio. Eles são alguns dos que se destacaram entre os cerca de 1.500 integrantes da delegação brasileira da COP-28, formada por nomes do setor público, empresariado e sociedade civil. Foi a maior delegação da história do Brasil num evento deste porte. As atenções realmente se voltaram para nós durante a conferência, já que um dos assuntos mais debatidos por lá, foi a questão do desmatamento da Amazônia. Isso sem falar que a próxima edição da conferência, a COP-30, acontece em 2025 em Belém.
Priscilla destaca a grande participação de mulheres no evento. “Um dos pontos altos da COP foi o encontro da primeira-dama, Janja, com a sheikha Fatima bint Mubarak Al Ketbi, conhecida como ‘Mãe da Nação’ e mãe do presidente dos Emirados Árabes, Mohammed bin Zayed Al Nahyan. Ser uma mulher brasileira falando aqui na conferência, sobretudo representando a reciclagem, um mercado tão masculino e marginalizado, é carregar a voz e a força da necessidade de mudanças urgentes. Buscando, não somente, soluções ambientais, mas a resiliência, a representatividade e a perspectiva feminina da mudança global”, diz Priscilla, CEO da Trevo Reciclagem, que ganhou destaque na ONU graças a sua forma de trabalhar com reciclagem de plásticos pós-consumo e pós-indústria.
Priscilla e Adilson abriram a Trevo Reciclagem em 2018. A empresa, que apesar de ser de médio porte faturou R$ 30 milhões no ano passado, funciona em Embu das Artes, São Paulo. Dedicada à reciclagem de plásticos descartados por consumidores e que iriam para lixões ou aterros sanitários, a Trevo foi uma das poucas PMEs a embarcar para Dubai e levarem para lá uma solução para resolver uma parte importante do problema ambiental do planeta. A empresa compra o material com cooperativas de catadores de resíduos. Depois disso, o material é triado, moído e lavado. Ao virar praticamente um farelo já livre da contaminação por outros materiais, o plástico é vendido a indústrias com alguma pegada de sustentabilidade na cadeia produtiva. Detalhe que esse farelo de plástico é então aquecido, para virar novamente um material bom para compor embalagens, caixas e produtos semelhantes. Vale lembrar que eles já compram plásticos do Rio com frequência, para seus negócios. A cidade já chegou a ser a maior fornecedora de plásticos da Trevo.
Funciona assim: parte dos resíduos plásticos pós-consumo compostos de PP, PE e PEAD, como embalagens de produtos de limpeza, cosméticos, embalagens alimentícias, brinquedos, utensílios, caixas e galões que iriam para lixões e aterros, são destinados a Trevo. Lá são triados, moídos, lavados e distribuídos às indústrias, que os transformarão novamente em produtos. “Este processo contribui com a preservação do ambiente, gerando emprego, renda e alimentando uma cadeia circular que movimenta bilhões de reais anualmente no Brasil”, explica Adilson. Portanto, eles impedem assim que aproximadamente 10.000 toneladas de resíduos sejam encaminhadas a aterros sanitários ou possam poluir cidades, florestas e oceanos, anualmente. Devolvendo a matéria-prima para a indústria. É este modelo de reciclagem, pouco conhecido em solo carioca, que eles planejam popularizar por aqui, muito em breve.
Com olhar contemporâneo — modernos e descomplicados, longe daquela imagem de “ecochatos” que permeia nomes importantes do setor —, eles são extremamente realistas. “Queremos mostrar as dificuldades de ser ESG, onde falta o básico, nas comunidades, nas favelas”, explica Adilson. Na COP-30 vai se esperar muito do Brasil e, até lá, muita água vai rolar…literalmente. Enquanto isso, o verão brasileiro segue com temperaturas cada vez mais altas. O assunto é urgente.