
Em meio a tantas razões para prestigiar uma obra de Yorgos Lanthimos, a oferta de perspectivas tão criativas se destaca. O cineasta grego, diretor do multipremiado A Favorita, repete a parceria com Emma Stone em Pobres Criaturas, recém-lançado nos cinemas. Sua câmera, muitas vezes posicionada no canto dos cômodos, se aproxima e se distancia repentinamente ao longo do filme. Passeia por espaços absurdamente bem construídos, permitindo notar quase em sua totalidade, tudo o que orna cada lugar mostrado. Esse movimentar peculiar é um estilo que faz lembrar os belos planos de Wong Kar Wai. Assim como o diretor chinês, Lanthimos constantemente traz para perto da ação o espectador, o deixando se sentir nos mais variados cenários olhando tudo de um ângulo singular, como que através de um olho mágico. São movimentos sutis, que compõem uma estrutura narrativa fascinante ao longo de pouco mais de duas horas.
A história de Bella Baxter (Stone), jovem criada pelo Dr Godwill Baxter (William Dafoe), flui da inocência à revelação, passando por reflexões e o encontro com uma vida adulta num corpo que não estava em sync com a própria mente. Bella desbrava o mundo em aventuras, como ela mesma intitula, acompanhada por Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo) um alguém que serve como um meio para mostrar o que existe além dos limites da casa que a continha. Sua jornada de descobertas sobre prazer e desigualdades, a iluminam a respeito de uma vida que só se pode entender, experimentando por conta própria. Emma Stone interpreta mais uma personagem de muita repercussão em sua carreira. Uma protagonista com uma mensagem forte e essencial.
O mundo de Pobres Criaturas é um deleite. A direção de arte de Shona Heat e James Price é orgânica. Tudo é feito com bastante atenção, cuidado e capricho. Sem dúvida Yornos se faz valer de recursos disponíveis hoje no campo dos efeitos especiais, mas sua cenografia tem um aspecto analógico, elegante e fundamental para o cinema. São diversas mentes trabalhando numa história de muitas camadas que progride para um desfecho fantástico.