
Essa semana fui um pouco mais longe e conversei com publicitário, designer, e renomado artista plástico da República Dominicana, Patricio Correa. Em nosso animado papo, ele fala sobre inspiração, sucesso e , claro, sobre os mistérios de seus peixes – peça marcante de sua obra. Confira!
JP – De onde surgiu a ideia de usar madeira reciclada?
A madeira reciclada é o recurso gratuito mais extraordinário que eu posso ter mais fácil acesso e me ajuda potenciar a minha imaginação e me adaptar, visto que já vem com formas, texturas e cores únicas, esculpidas e transformadas pela natureza, pelo tempo e pelo ar livre.
Além disso, cada peixe que faço a partir de madeira reciclada e recuperada é um pedaço de uma árvore a menos, dando mais uma vez a esses seres maravilhosos a oportunidade de continuarem a crescer e a fornecer oxigénio e água ao nosso planeta…
Outra coisa é que nas margens das nossas praias caribenhas e nas costas quentes dos nossos litorais chegam todo o tipo de restos de madeira, como pedaços de barcos ou casas, arrastados pelas marés para alguns lugares onde coleciono verdadeiros pedaços de “tesouro”, que eu e a minha imaginação transformamos em peças de arte únicas em forma de peixe!
JP – Como você se sente com todo esse sucesso nas suas mãos?
Para mim é um verdadeiro compromisso, é como se Deus tivesse me dado um presente e eu pudesse mostrá-lo através das minhas peças de arte com formas de peixes, é como absorver experiências anteriores nas minhas criações e fazê-las evoluir de um peixe para outro e de uma ideia a outra, uma comunhão evolutiva de criatividade como um vulcão em erupção!
JP – Sabemos que nada foi fácil ou rápido. Resumindo em uma única palavra… qual seria?
Realmente seriam duas: “Nova tentativa” e resiliência.
JP – Qual ou quem é a sua inspiração? Ou que é aquilo que leva a sua imaginação ao infinito…Já que os desenhos nunca se repetem!
No começo tive um pouco de medo de ter meus desenhos copiados, pois no meu país a questão da propriedade intelectual em termos de registro e proteção é praticamente inexistente. Então pensei, se eu mesmo não conseguisse copiar um peixe igual a outro, os outros também não conseguiriam, mas esse pensamento não tornou muito certo, pois atualmente, apesar do meu trabalho ser reconhecido, algumas pessoas aproveitam meus desenhos e carreira para criar peças, muito parecidas com o meu trabalho e estilo, que é triste para mim.
Por outro lado mais positivo, a minha motivação vem da alma, daquele lugar etéreo perto de Deus, onde o amor e a criatividade se fundem num espaço infinito de formas, texturas e cores que me ajudam a fazer aquilo que mais me apaixona, que é surpreender as pessoas pela simplicidade das minhas criações.
Para mim o mais fantástico é surpreender-me como faço constantemente e criar um distanciamento emocional com a obra, “deixá-la ir” procurar outro dono, alguém que se apaixone pelas suas formas, cores e detalhes, alguém que encontra em uma das mais de 50 (cinquenta) mil peças feitas por mim em 7 (sete) anos, uma peça de nove no céu que está em meu coração bem perto de Deus…
Há 7 (sete) anos tive a necessidade de criar algo diferente para uma feira de artesanato da qual havia participado e vi como uma inspiração com um peixe Koi vendeu muito rápido e gerou uma boa impressão, no mês seguinte pensei que tinha que fazer peixes de novo mas desta vez fui ao pátio e peguei um pedaço de palete do chão e com intenção de criança fiz vários cortes que definiram meu estilo até agora, cabeça e cauda, depois comecei a pintar o corpo, cabeça e cauda de diversas maneiras até conseguir uma combinação eclética que definiu meu estilo até hoje!JP – Como você faz um peixe?
Depois eu os fumigo e trato para que não se degradem ainda mais com o tempo e prossigo cortando o formato do peixe, o que costumo fazer à mão livre. Sem moldes, depois corto essa linha e depois esculpo e dou formas e volume para conseguir uma personalidade única em cada uma das minhas obras, que são como crianças nascidas do coração.
Meu trabalho é muito difícil e muito fácil, ninguém pode me ajudar muito porque nunca sei como vou fazer uma tarefa, primeiro começo pelo corpo e depois o corpo fala comigo e sugere que eu faça o rabo e por último a cabeça, o que temos será consequência eclética das outras duas partes em perfeita conjugação!
Por fim, protejo-os com uma resina para que durem no tempo, dando-lhes aquele brilho cristalino que define o meu trabalho.JP – Você sabe como será a aparência de um peixe?
Às vezes solto um peixe ou vários durante semanas, meses e até anos e não consigo terminá-los, tenho dificuldade em terminá-los ou simplesmente não sei o que fazer com eles, até que um dia os agarro novamente e os término em pouco tempo. Este é o verdadeiro processo criativo.
Nós o gerenciamos e ele nos gerencia em algum momento, sempre que seja desde o coração!JP – Como você se descreve?
Gostaria que as pessoas me olhassem como uma criança brincando com massa de vidraceiro e lápis de cor, fazendo uma estrada de areia e depois usando carrinhos, fazendo casas com caixas de papelão, criando a cada momento, não só para me realizar como ser humano, mas também para buscar e capturar a impressão e a emoção em todos aqueles que admiram o meu trabalho como caçar borboletas com maias de engenho em campos repletos de ideias e regados de criatividade.
Eu me descrevo como um ser humano em constante busca por crescimento criativo e amor!JP – Você sempre foi um artista?
Estudei artesanato em couro em uma escola de trabalho por 2 (dois) anos na minha juventude, depois me formei em publicidade e comunicação na faculdade e finalmente estudei desenho de moda quando tive uma fábrica de roupa de banho por 10 (dez) anos, depois trabalhei com lojas de artesanato, então a minha experiência foi enriquecida com aquelas experiências a ponto de me tornar crítica de tudo que era vendido nas minhas lojas e o contato com tudo o que definiu a minha formação profissional dentro da arte.