
Um desfile especial realizado no dia 2 de abril reacendeu a discussão global do descarte de peças de roupa em um lixão do deserto de Atacama.
Impactante, os modelos usaram looks produzidos a partir das roupas jogadas no local – vestidos, camisetas, sapatos, casacos – e o resultado ficou marcado como um manifesto artístico, num editorial realizado pelo fotógrafo Mauricio Nahas, junto a toneladas de materiais no desolador cemitério de roupas.
Apoiado pela Organização Não Governamental (ONG) Desierto Vestido, em parceria com a Fashion Revolution e o Instituto Febre (organização que trabalha com justiça socioambiental na intersecção entre clima, gênero e moda), o Atacama Fashion Week teve o objetivo de conscientizar sobre os perigos de consumo e produção desenfreada da moda, principalmente depois da tendência fast fashion.
A revista Exame mostrou que, segundo o Observatório de Complexidade Econômica (OEC) – uma plataforma de registro de uma série de atividades econômicas pelo mundo –, o Chile é o maior importador de roupa usada na América do Sul. O país recebe 90% desse tipo de mercadoria na região. E, apesar de uma parte ter como destino a comercialização, por volta de 60% do que é despachado para a localidade não passa de resíduo ou material descartável, o que acaba por formar as “montanhas” de lixo.
De acordo com informações publicadas no site do instituto Febre, o setor da moda terá que reduzir suas emissões pela metade até 2030 para evitar o aumento de 1,5ºC e o agravamento da crise climática no mundo!
Quem tem a preocupação com o clima e foca na reciclagem de têxteis, sabe que alguns materiais podem levar até 200 anos para se decomporem. Para Fernanda Simon, diretora executiva do Fashion Revolution Brasil – organização brasileira do maior movimento ativista da moda no mundo, “é crucial uma mudança sistêmica na indústria da moda!” E todos estamos envolvidos com esse enorme problema. Ela lembra que os cidadãos têm que ter mais consciência em suas compras e as marcas, a responsabilização e compromissos robustos. E aos governos, a missão é reivindicar políticas públicas e fiscalizações.
A rede de parceiros do Atacama Fashion Week contou também com o apoio da agência Artplan, que desenvolveu toda a concepção criativa do projeto e da produtora de vídeo Sugarcane Filmes. O resultado foi positivo pois transpassa o universo da moda e usa o audiovisual como palco para conscientização global do descarte inadequado de roupas.