
Estreou a peça teatral Prima Facie no teatro Adolpho Bloch.
A peça é um monólogo cuja atuação é protagonizada por Débora Falabella.
A expressão Prima facie é de origem latina. No contexto jurídico, é usada para se referir a uma evidência ou conjunto de fatos que, se não forem refutados, são suficientes para provar uma determinada reivindicação ou conclusão.
O monólogo que estamos comentando narra a trajetória da bem-sucedida advogada Tessa, que tem acusados de violência sexual entre seus clientes. Ao mesmo tempo em que experimenta o sucesso, consegue êxito em obter causas favoráveis, ela precisa encarar uma crise quando se torna vítima de uma agressão sexual, de um crime de estupro, fato que a obriga a rever uma série de valores e princípios, além de refletir sobre o sistema judicial, a condição feminina e as relações conturbadas entre diversas esferas de poder. Na condição de vítima, ela pôde constatar que o sistema jurídico é injusto.
A atriz Débora Fabella interpreta a advogada de forma brilhante, segura, determinada, com muita firmeza. Ela nos proporciona um show de interpretação, passando emoção em sua fala. É uma atuação de excelência!
Débora faz a advogada Tessa que transparece alegria quando consegue vitórias para aqueles que defende, mas transparece tristeza e frustação quando se torna vítima de uma agressão sexual, e o agressor não é incriminado, momento em que ela percebe que o sistema jurídico é injusto. Ao não ter obtido uma causa favorável a si, ela se sente impotente, fraca. Mas a luta continua, porque a busca por proteção e justiça é uma contenda que as mulheres não podem deixar de perseguir.
O texto, escrito por Suzie Miller, é forte, tem conteúdo político e social denso, e é interpretado por uma atriz também robusta. Ela deixa transparecer a voz feminina lutando por igualdade e justiça.
A direção é de Yara de Novaes que não inventa nada, foca no texto, e na atuação e interpretação da atriz. Ela deixa Débora Falabella a vontade no palco, para livremente realizar a sua performance.
O figurino criado por Fabio Namatame predomina o tom preto. Num primeiro momento, a atriz está elegantemente vestida, com um terno preto, por cima uma toga, e uma bota chiquérrima. Tessa é uma advogada bem sucedida e situada na sociedade. Num segundo momento, usa um figurino simples, e um sapato pouco sofisticado, deixando transparecer a mulher impotente, violentada, vítima de estupro.
A cenografia é de André Cortez que criou um ambiente cenográfico constituído mesas e cadeiras, e dispostas de forma inteligente e criativa. Num primeiro momento, há cadeiras ao redor da mesa, num espaço mais baixo, e cadeiras sobre a mesa, umas se sobrepondo em relação as outras, num nível mais alto, numa ideia de hierarquia. Num segundo momento essa montagem cenográfica é desmontada, e mesas e cadeiras sao dispostas todas na horizontal.
A luz de Wagner Antonio é bonita, e adequada as diversas situações das cenas da peça. Nada de sofisticação.
O monólogo que comentamos tem uma atriz potente, um texto com a mesma característica, cenários e figurinos de primeira, e mostra a transformação de uma advogada bem sucedida em uma mulher vítima diante de uma agressão sexual. Um texto de mulher, embora não restrito ao gênero feminino.
EXCELENTE E IMPERDÍVEL produção teatral!
Foto Divulgação