
Estreou no teatro Firjan Sesi Centro a peça teatral “Pequeno Manual Antirracista – A Peça”.
A peça é um monólogo estrelado por Luana Xavier, adaptado do livro de Djamila Ribeiro, e cujo texto e direção são de Aldri Anunciação.
O tema central é o racismo estrutural brasileiro e o embate contra o mesmo.
A narrativa se inicia na sala de aula da professora de ensino médio de uma escola pública, de nome Bel, representada pela atriz Luana Xavier, que até então lecionava técnicas comerciais e passa a lecionar técnicas antirracistas.
De repente, Bel se vê sitiada por um tiroteio que acontece do lado de fora da instituição. Todos ficam presos na sala e, nesse momento, ela procura fazer uma conferência sobre o antirracismo, tentando estabelecer alguma relação com o que ocorre do lado de fora da sala.
O texto também explora a relação entre Bel e seu filho Alain, destacando o afeto negro com uma forma de combate ao racismo. Ela fala com ele ao telefone com carinho e afago, e diz que o ama. Se preocupa com ele e solicita que aguarde o tiroteio terminar para vir buscá-la.
Numa segunda ligação do filho para Bel, quando os dois estavam conversando, ela ouviu o barulho de tiros. Por alguns minutos, ela o chamava, e ele não respondia. De repente, ele falou novamente com a mãe, e depois já não se falaram mais. Algo estranho ficou no ar. Mas, Bel prosseguiu com a aula.
Passando um tempo, Bel recebe uma nova ligação telefônica. E, o mais triste se deu quando ela recebeu a notícia de que o seu filho foi atingido no tiroteio por uma bala e veio a falecer. Então, aquela aula que ela estava lecionando que visava a elaborar um manual antirracista de nada valia. O mundo da professora e de seu alunos virou de ponta a cabeça.
A atriz Luana Xavier tem uma atuação impecável. Ela faz uma professora Bel preocupada em passar conhecimento, mas também desejosa de oferecer carinho e afeto. Trata seus alunos como se fossem filhos, protege-os, e não deixa que nada lhes aconteça. Está atenta as incongruências da sociedade brasileira, e os ensina a saber como proceder e agir socialmente. E, fica indignada e triste ao saber que o seu filho foi assassinado durante o tiroteio.
O espetáculo é lindo, forte, impactante, e emocionante, um grito contra o racismo.
O tema não é leve, mas é tratado de forma suave. O texto de Aldri busca apresentar um tratamento jocoso, pensativo, delicado, e afetuoso ao assunto. Demonstra assim que é possível levar aos palcos assuntos dramáticos da sociedade brasileira contemporânea e tratá-los de forma não grosseira. Utiliza uma linguagem simples e de fácil compreensão. A música também é utilizada como ferramenta para passar a mensagem, pois Luana canta algumas canções.
O figurino de Diana Moreira é adequado a uma vestimenta de professora, que traja uma blusa e uma calça boca larga em tom amarelo.
A cenografia de Mauro Vicente é a sala de aula da professora. É adequado e arrojado. Todo construído em alumínio pintado. As janelas e venezianas são movimentáveis, abrem e fecham.
A lousa tem o formato de um olho, e aparecem projeções das lições.
Por sua vez, junto as janelas há um conjunto de televisores que exibem imagens de acordo com as cenas da peça. Por exemplo, quando a mestra está lecionando, aparecem imagens de cortinas. Quando há tiroteio, aparecem imagens de vidros rachados pelos tiros, ou fumaça e fogo. E, quando a professora canta I Will Survive aparecem imagens de luzes de boate. Portanto, há a utilização do tecnológico para incrementar a cenografia e ajudar a narrar o enredo.
A iluminação de Caboclo de Cobre é bonita, e adequada as diversas cenas do espetáculo.
A peça teatral é de expressiva qualidade por tratar um tema áspero de forma agradável, ter em cena uma atriz que realiza uma atuação digna de louvor, e ser bem produzida.
Excelente produção teatral!
Fotos Caio Lírio