
O espetáculo Entre a Pele e a Alma, de Alex Neoral, da Focus Cia. de Dança, realizou três apresentações no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
O coreógrafo e diretor artístico Alex Neoral para a criação do espetáculo partiu da obra do pintor holandês Hyeronymus Bosch, em particular do seu Jardim das Delícias, quadro que está localizado no Museu do Prado, na Espanha, tendo ao seu lado o Inferno e o Paraíso, constituindo assim um tríptico.
Neoral ao visitar o local, contemplou a obra, deixou-se viajar pela imaginação, e realizou uma atividade interpretativa em que propôs olhar o corpo numa perspectiva que envolve o sagrado e o profano, experienciando a mais absoluta liberdade, a partir da origem da humanidade.
Mas quem pensou que Neoral se ateria exclusivamente em Bosch, se enganou. Ele partiu do quadro do pintor batavo e o relacionou a trajetória do cantor irreverente e transgressor Ney Matogrosso, que sempre exaltou a liberdade do corpo e a sensualidade. Enquanto esteve nos palcos, ele foi um indivíduo sem limites, que queria impactar o público, sem se preocupar com a opinião pública.
O ballet é bonito, potente, bem coreografado e emocionante, mergulhando nessa jornada coreográfica de Neoral que se inicia em Bosch, alcança Ney, e adentra pelo universo carnavalesco, uma verdadeira “festa profana”, da orgia, da alegria e da carne.
Os nove bailarinos – cada um de uma região do Brasil – executam com esmero e perfeição técnica o conjunto coreográfico criado por Neoral. São bonitas, criativas, envolventes, intensas as coreografias. Deixam transparecer o crescimento e o amadurecimento do coreógrafo. E são executadas por uma brilhante trilha sonora interpretada por Ney, e criada pelas competentes Sacha Amback e Paula Raia.
Os figurinos criados por Joao Pimenta são bonitos e de um extremo bom gosto. Ganham destaque os figurinos da parte em que os bailarinos usam uma calça de tecido com lantejoulas laminado prata, e, num segundo momento, usam também jaqueta com o mesmo tecido. Apresenta um efeito incrível. E, em segundo lugar, o figurino pássaro-branco do encerramento, réplica perfeita de um dos figurinos usados por Ney, repleto de franjas e brilho, marca inconfundível do cantor.
A cenografia é uma criação da talentosa Natália Lana, que criou um bonito e original cenário. A cenografia apresenta três grandes mudanças durante o espetáculo. Inicia por uma grande veladura, que cai e apresenta a cena. A segunda cenografia vai se montando em cena aberta, para estas foram utilizadas 1.540m de malha trabalhadas em uma grande instalação artística intitulada vísceras, trabalhadas com mais de 300 (trezentos) nós em diferentes alturas estudadas em 3D. E a terceira cenografia é uma grande cortina de fitas coloridas que fazem alusão a serpentinas carnavalescas.
A iluminação criada por Anderson Ratto é bonita, ousada, forte, potente, realçando ainda mais o cenário e os figurinos. A luz repleta de efeitos inicia com um tom vermelho intenso, e num segundo momento, ganhando os tons verde, azul, lilás, entre outros.
Entre a Pele e a Alma é um espetáculo bem coreografado e executado; apresenta bailarinos bonitos e que exibem técnica perfeita; e lindos, irreverentes e arrojados conjunto de figurinos e cenários.
Excelente produção de dança contemporânea!