
A carreira do Rei do Rock foi preenchida por episódios marcantes e momentos icônicos. Assim como muitos artistas, mesmo depois de alcançar o sucesso, Elvis experimentou questionamentos e incertezas. Além das próprias, foi derrubado por dúvidas impostas em manchetes que profetizavam o fim de seu tempo. Todas vindas de grupos que, anos antes, garantiam que aquela novidade saída de Memphis, não duraria. O ineditismo na voz, na dança “diabólica” e no estilo, convenceram mais do que seus fãs que, até hoje, não aceitam que ele se foi. Presley redefiniu um gênero que a quem diga, ele na verdade inventou. O próprio, por vezes, admitiu que desde o começo de sua carreira, escutava que o Rock estava morrendo, confirmando que essa conversa fiada é muito mais antiga. O documentário O Retorno do Rei – Queda e Ascensão de Elvis Presley (Netflix) destaca o regresso de um artista insatisfeito com sua carreira. Um músico que vivia longe dos palcos e dos fãs. Um astro mal aproveitado e nas mãos de um empresário que o levou ao sucesso, mas nunca compreendeu o seu verdadeiro potencial.
Sete anos depois de sua última apresentação ao vivo, um especial de tv era a aposta mais alta para resgatar a imagem de um Elvis excessivamente exposto em filmes de qualidade cada vez mais questionável. Roteiros demasiadamente reciclados o colocavam de qualquer maneira numa trama em que ele cantaria o suficiente para gravar um álbum que acompanharia a película da vez. Mas depois de alguns bons longas, o constrangimento imposto por um contrato que ele não conseguia evitar, era flagrante. O artista mais importante dos EUA em décadas, se distanciava do símbolo de sucesso e inovação da indústria fonográfica. Era natural levá-lo para Hollywood, mas os mesmos estúdios que ajudaram a trabalhar sua imagem que, já tinha ganhado a tv, a usaram para fazer dinheiro sem considerar que estavam desperdiçando um talento único. Numa era em que as telas passaram a contar, cada vez mais, histórias reais e imaginadas, Elvis era protagonista em todas.
Gravado em 1968, o chamado Comeback Special, exibe o músico com sua velha banda, cercado dos fãs, numa performance intimista. O segmento que não estava na ideia original e que, por muita insistência, se tornou parte do programa, é a memória mais forte daquela gravação. O mundo viu um Presley à vontade, exibindo um talento reprimido e sinalizando aos seus críticos que ainda estava no jogo. É o primeiro momento de um terceiro ato da carreira que chegaria ao fim nove anos depois. O Retorno… faz uma síntese precisa dos anos que antecederam esse capítulo, relembrando, sem se aprofundar, sua origem e os principais nomes à sua volta. O registro inclui personalidades que tem seu trabalho como referência para suas próprias carreiras. Bruce Springsteen e Billy Corgan, são alguns dos que compartilham como a história do Rei do Rock os influenciou, destacando detalhes importantes de um músico que ajudou a estabelecer os alicerces da performance ao vivo, com uma banda.
Todo o sucesso de Elvis e seu impacto cultural, sombreiam uma vontade genuína de um rapaz que se realizava cantando gospel. Que reconhecia não conseguir compor e mostrava apreço pelo talento de outros que surgiram depois de sua ascensão e que escreviam o próprio material. Um exímio guitarrista, que se mostrava absurdamente confortável ao empunhar seu instrumento. Uma poderosa voz que partiu cedo. Uma luz que seguiu brilhando forte por todo o lugar.