
Estreou Camille em Fuga na Sala Multiuso do Sesc Copacabana.
A pintura “Mulher com Sombrinha”, também conhecida como “O passeio”, do artista Monet, serviu de inspiração para a dramaturga Gabriela Estevão redigir o texto da peça que levanta questões sobre o universo feminino.
O texto traça uma relação sensível entre três mulheres, duas humanas e uma em óleo sobre tela. Em cena, estão as atrizes, Denise Stutz e Eli Carmo, que vivem Aura e Camille, respectivamente.
Camille é a funcionária da galeria onde está exposta a instalação que contém a réplica do referido quadro. Todas as segundas-feiras Aura visita o espaço para admirar o quadro. As constantes visitas vão promover a aproximação entre a recepcionista e a visitante, e elas acabam construindo uma amizade, tornando-se amigas íntimas. De forma que passam a conversar sobre diversos assuntos, como vigilância das câmeras, direito de ir e vir, gravidez, maternidade, memórias familiares, inseguranças femininas, entre outros temas. A galeria torna-se um espaço de sociabilidade e, ao mesmo tempo, de liberdade, onde as duas amigas podem conversar de forma ampla e irrestrita sobre assuntos do universo feminino. E tendo como referencia o citado quadro.
A dramaturgia da peça fala sobre a liberdade feminina, em poder dialogar sem estar presa as amarras da sociedade, e assim se libertar do patriarcado. É um texto humano, que clama pelo direito das mulheres de exercerem a sua liberdade, de criar novos imaginários, novas histórias, quebrar padrões sociais opressores, que trazem medo e insegurança. A partir da imagem da réplica do quadro, Camille e Aura puderam sonhar, exprimir seus desejos, experienciar a liberdade, e voar pela imaginação. Fugir da realidade!
O elenco é constituído pelas atrizes Denise Stutz, e Eli Carmo. Elas realizam boas interpretações das personagens. Elas estão sintonizadas e ajustadas. Se movimentam bem pelo palco. Apresentam uma linguagem simples e de fácil entendimento. Deixam transparecer emoção em suas falas.
A personagem Aura inicia o espetáculo sentada na primeira fila da plateia. A seguir, ela se movimenta para entrar no palco. Durante todo o espetáculo, ela realiza esse movimento: da plateia para o palco, do palco para a plateia.
A direção é de Gabriela Estevão, que foi precisa nas marcações, e na direção das atrizes.
Os figurinos criados por Luiza Fardin são simples e adequados.
A cenografia criada por Mina Quental é bonita, adequada, e apresenta os diversos elementos que a integram posicionados de forma que o público visualiza e entende. É uma cenografia limpa, e não entulhada.
Mina criou cenograficamente a galeria onde Camille trabalha, e Aura visita. Ela é constituída por uma instalação que apresenta uma réplica do quadro Mulher Com a Sombrinha, de Monet, inicialmente localizado no centro do palco, e que, ao longo da apresentação, é posicionado em diversas partes do palco, interagindo com a iluminação, e ganhando cor. Há também um banco, e uma mesa com rodinhas. Outros objetos também se fazem presentes como telefone, livros, entre outros.
A iluminação criada por Ana Luzia Molinari de Simoni é bonita, impera a luz branca, e realça as diversas interpretações das duas atrizes em suas respectivas cenas.
A direção musical é de Karina Neves, que nos brinda com uma sonoridade agradável e sensível.
Camille em Fuga apresenta uma boa dramaturgia; um bom elenco; e uma cenografia original, criativa, e clean.
Boa produção cênica!