
Estreou a ópera Rusalka no Theatro Municipal do Rio de Janeiro (TMRJ)
A música é de Antonín Dvořák. A Concepção e direção cênica é de André Heller-Lopes. A direção artística é de Eric Herrero. Coro e Orquestra Sinfônica do TMRJ. A regência é de Luiz Fernando Malheiro.
Rusalka, a ninfa dos lagos, pede à bruxa Jezibaba que a transforme em mulher para se entregar ao amor de um jovem Príncipe. O poder da bruxa é limitado e a ninfa converte-se numa humana muda. E, caso quisesse desfazer o efeito do feitiço, Rusalka seria amaldiçoada e condenada a matar o seu amado.
Numa manhã, Rusalka encontra o Príncipe. Este de cara se apaixona pela sua beleza, e a leva para o seu palácio.
No castelo acontece o casamento de Rusalka e o Príncipe. Contudo, este último se interessou pela bela Princesa que acabou de chegar com os hóspedes. O Príncipe não conseguia compreender a essência de Rusalka, e a sua beleza começava a se esvair. A princesa, com seu olhar mais humano e afetuoso, estava decidida a destruir a muda.
Rusalka passa a sofrer de amor, e verifica que o mundo dos homens não é tão bom assim como pensava. Então, ela recorre ao Senhor das Águas. Este último se enfurece com a traição do Príncipe, que externa seus sentimentos à Princesa. Esta última abandona o Príncipe desmaiado, frente ameaça do Senhor e ao seu obscuro destino.
Rusalka sofrendo no mundo dos humanos solicita ajuda a Jezibaba. Esta afirma que somente o sangue do Príncipe podia acabar com a maldição. Rusalka rejeita a faca que a bruxa lhe oferece.
O Príncipe retorna ao lago onde encontrou a bela muda, que sofre por amor não correspondido. Ele arrependido da sua infidelidade pede o seu perdão. Ela lhe dá um beijo mortal, ele morre, e ela retorna para o reino submerso das águas.
Ludmila Bauerfeldt fez uma Rusalka que se sacrificou pelo amor não correspondido do Príncipe. Se transformou em humana, emergiu ao reino dos homens, não teve o seu amor correspondido, e retornou ao seu mundo. Ela se apresentou de forma notável, expressando emoção, com um canto forte e apaixonante. Alia de forma perfeita técnica e emoção.
No primeiro ato fez uma brilhante apresentação da ária “Lua no Céu Profundo”.
Giovanni Tristacci fez o infiel Príncipe. Ele, num primeiro momento, se apaixona por Rusalka e quer com ela se casar. Mas, num segundo momento, ao não conseguir compreender ao certo sua essência e sua beleza começar a se empalidecer, a trai com a Princesa. Ele tem uma correta atuação, com um bom canto.
Eliane Coelho fez a princesa estrangeira, que traja um belo vestido vermelho. Ela estava disposta a destruir a união entre Rusalka e o Príncipe. Atuou e cantou bem.
Denise de Freitas fez uma bruxa Jezibaba má, perversa, que produziu a poção dada a Rusalka para se transformar em humana. Ela teve uma atuação notável, sobretudo no momento de produção da poção, e, num segundo momento, de destruição do feitiço. Também cantou de forma notável.
Licio Bruno faz Vodnik, o Senhor das Águas, o paizinho das ninfas. Ele é o conselheiro e protetor. Ele se opôs a transformação de Rusalka. E, ao final, perguntou o quanto valeu tal sacrifício, se Rusalka só sofreu por amor. Licio fez uma excelente apresentação, com um bom domínio de palco, e imposição de uma voz forte e contundente.
No conjunto as ninfas realizam bonitas apresentações. Cantam e dançam de forma suave e meiga, com seus bonitos trajes em tom verde água.
Os figurinos foram criados pelo competente Marcelo Marques. São bonitos, de bom gosto, elegantes, e requintados. Ganham destaque os figurinos das ninfas, e os do segundo ato: os luxuosos vestidos de noiva de Rusalka, e o vermelho da Princesa; e os trajes do séquito de convidados.
A cenografia criada por Renato Theobaldo é criativa, original, e arrojada. No primeiro ato observa-se oreino dos mares, onde vivem as ninfas. No segundo ato observamos o castelo do Príncipe. E, no terceiro ato, o retorno aos mares.
A cenografia se utiliza de projeções, exibidas numa tela de fundo branca, onde são exibidas imagens do fundo dos mares, águas borbulhando, navio afundado, entre outras.
A concepção e direção cênica é de André Heller- Lopes, que mantém o caráter romântico da ópera, uma vez que Rusalka deseja se tornar mulher para ser amada. Mas dá um ar contemporâneo, desse mundo marcado pela brutalidade e estupidez, ao criar um “bosque” constituído por cadeiras com local para colocar partituras, pequenas luzes e instrumentos. Nesse espaço contemporâneo, Rusalka acredita que encontrará seu grande amor e lhe trará a realização tão sonhada.
A iluminação criada por Gonzalo Córdoba apresenta um bom jogo de luzes, que oscila entre o claro e o escuro, e realça as interpretações dos solistas em suas diversas cenas.
Na cenografia há bolas metalizadas penduradas que, a iluminação ao refletir, apresenta um bonito efeito.
A direção musical e regência é de Luiz Fernando Malheiro, que conduziu a orquestra de forma magnífica, com um som melodioso e agradável, e apresentando uma total sintonia e ajustamento com o coro e os solistas.
Rusalka é uma ópera que apresenta um elenco de solistas de qualidade ímpar; figurinos bonitos e de bom gosto, e cenografia criativa e original; e uma direçãocênica primorosa.
Excelente produção de ópera!