
Estreou, na Academia Brasileira de Artes Carnavalescas, a peça teatral O Tradicional e o Moderno na Dança do Mestre-Sala e da Porta-Bandeira. A idealização e a direção de produção é de Luiz Antonio Pilar.
A dramaturgia de Leonardo Bruno narra por meio do texto e da dança a trajetória de um dos principais casais de mestre-sala e porta-bandeira do carnaval carioca, Rute Alves e Julinho Nascimento.
O casal é oriundo da zona norte da cidade do Rio de Janeiro, região marcada por intensa diversidade cultural e ritmos distintos, como a roda de samba, o jongo, o charme, e o funk. Nesse espaço geográfico onde o corpo se movimenta e requebra intensamente, que a dupla nasceu, cresceu e recebeu sua formação sócio-cultural.
A dramaturgia explora a diferença familiar da origem do par. Julinho nasceu no seio de uma família cujas raízes estavam assentadas no samba. Por sua vez, Rute buscou a sua inserção, uma vez que sua família era evangélica.
Se para Julinho o mundo do samba estava próximo, produto das suas tradições familiares, para Rute a sua inserção foi produto do seu enfrentamento, da sua luta, da sua resistência, porque ela é guerreira. Externa á cultura afro-brasileira, ela buscou se imiscuir e se apropriou desse universo, para fazer dele parte integrante da sua vida.
Portanto, Indivíduos com matrizes diversas, mas que se unem em busca de um sonho: a paixão pela dança do casal de mestre-sala e porta-bandeira. É paixão! Mas também é vocação! Porque se não tivessem vocação, não teriam alcançado o êxito e o sucesso. O sonho virou realidade!
Para além do samba, eles vivem as suas respectivas vidas como cidadãos e profissionais nas suas áreas. Rute é figurinista. Por sua vez, Julinho é professor de educação física.
O texto é simples, apresenta uma linguagem acessível, didática, biográfico, constituindo-se como uma relevante homenagem ao referido casal. Sublinha suas lutas, vitórias, premiações, referencias, inspirações, mas também as decepções e frustrações, e as voltas por cima.
O texto é narrado por Édio Nunes e Luiza Loroza, de forma descontraída e bem humorada, dando ao espetáculo um dinamismo consistente. E a narrativa é complementada pela dança de Rute e Julinho durante todo o espetáculo. Há uma perfeita simbiose entre a narrativa e o bailar do casal. E essa dança é carnavalesca, e genuinamente nossa, e eles trazem para um palco de teatro, onde ocorre toda a encenação.
Momento de ápice do espetáculo é a homenagem ao casal Maria Helena e Chiquinho, que durante anos defenderam o pavilhão da Imperatriz Leopoldinense, e referencias para Rute e Julinho. Estes últimos incorporam os homenageados e dançam “iguaizinhos” aos mestres.
Rute e Julinho tem uma atuação correta. Eles apresentam uma técnica perfeita, e deixam transparecer emoção. A dança do casal é sublime. Se apresentam de forma adequada e com uma classe que é típica deles. Por meio de suas brilhantes exibições, o espaço tradicional do palco transmuta-se num encontro do teatro, dança e carnaval.
A direção é de Juliana Meziat que realizou as marcações corretas, e deixou o casal a vontade no palco, livres para exibirem o seu bailar, marcado pela energia de passos contagiantes.
Meziat também foi a responsável pela bonita e contagiante coreografia executada pelo casal.
Os figurinos foram criados por Rute Alves. São simples, bonitos, elegantes, e adequados. Impera o tom branco. Ela veste um vestido, e ele camisa e calça.
Ao longo do espetáculo há algumas variações, como o momento de homenagem a Dodô da Portela, quando Rute veste um traje de damas.
A cenografia criada por Lorena Lima é simples e adequada.
A trilha sonora do espetáculo é embalada por sambas-de-enredo inesquecíveis, bem como por sambas interpretados por Martinho da Vila, Jorge Bem Jor, entre outros.
A iluminação criada por Caio Maciel contribui para realçar a apresentação do casal em suas diversas cenas.
O Tradicional e o Moderno…é uma singela homenagem ao prestigiado casal de mestre-sala e porta-bandeira Rute e Julinho; deixa transparecer a íntima associação entre teatro, dança, e carnaval; e apresenta uma dramaturgia de qualidade, que une texto, música e dança.
Excelente produção teatral!