
Tive a honra de conversar com conceituada diretora de Teatro e Cinema no Brasil, que desembarcou em Los Angeles carregando na bagagem sua experiência adquirida em 35 anos de carreira artística. Bia Oliveira dirigiu mais de 25 espetáculos, é autora, educadora e preparadora de elenco. Como escritora e roteirista pertence a Academia Internacional de Literatura Brasileira, com sede em Nova York. E em plena pandemia rodou seu curta “in home” Janelas pelo Mundo – AM to PM que ganhou mais de 50 prêmios nos EUA e no mundo.
JP – Olá Bia! São 35 anos de carreira, dirigindo e formando atores! Qual é a avaliação que você faz da sua trajetória no campo das artes cênicas?
Uma trajetória de muito estudo e muita ralação, sabe a expressão, “com a cara e com a coragem”? Então sou muito sonhadora e otimista e quando quero vou atrás e realizo, mas carreguei muita caixa, sempre conciliei a carreira artística à minha formação como educadora, fui fazendo e aprendendo na prática. Vi meus mestres e acolhia esse aprendizado e fui colocando no palco meu coração e meus sonhos.
JP – Você já atuou como gestora pública e diretora artística, gerindo espaços como o Teatro do Planetário da Gávea, dirigiu o Parque da Cidade das Crianças e o Teatro Gláucio Gil. Comente sobre a experiência de ter sido gestora destes espaços.
Aprendi muito sobre o outro lado da moeda, sempre artista querendo tudo e quando você entra na máquina, entende como ela funciona, e claro, aprende a jogar esse jogo, uma experiência fascinante. O que me fez muito feliz foi contribuir para a cultura do meu Rio de Janeiro, trocar com muitos diretores, viver o mundo do teatro, fazer acontecer para todos os produtores e artistas da classe, abrir as portas dos centros culturais para o público, criar atividades valiosas para a população, literalmente me sentia gestando Arte. Eu sei que servi à Cultura, e isso me fez crescer muito como artista.
JP – Quando você começou a se interessar pelas artes cênicas?
Acredito que desde que comecei a falar e andar, desde muito criança virava o sofá ao contrário para fazer teatro para as bonecas e dentro da minha casa tudo era cinema, teatro, eu fui criada pela minha avó, mãe do Domingos. Meu pai era produtor do meu tio, logo, minha casa era um camarim. Eu fiz Tablado muito nova, fiz teatro no Planetário, com o Hélvio Garcez, um Mestre maravilhoso, e na minha época, não tinha faculdade de Artes Cênicas, então, fiz Letras e transformei minha sala de aula num palco particular.
JP – Como se deu a sua formação na área?
Pela vida. Observando meu tio, indo ao Teatro, lendo e estudando.
JP – Qual foi o aprendizado que você teve por ter convivido e trabalhado com Domingos Oliveira?
Ele foi tudo. Um filósofo, um poeta sensível que adorava ensinar. Ele me fez estudar Shakespeare, Dostoiévski, Sartre, e até hoje refaço os exercícios que ele dava nos cursos pois são existencialistas e conectam o artista a sua essência. Aprendi a estética com ele, o meu desejo estava aqui, ele abriu a porta e me fez voar. O teatro veio pela minha forma de querer o mundo mas o cinema veio dele, quando fiz assistência de direção dele em INFÂNCIA, foi ali que entrei definitivamente para o cinema, fui arrebatada.
JP – Você também leciona no campo na área das artes cênicas?
Sim, minha prática como educadora e a experiência de 35 anos na sala de aula, fizeram essa bifurcação e esse binômio; arte e educação, para mim, fazem um
Grande Espetáculo quando unidas e trabalhadas de forma verdadeira e contextualizada. Amo aprender e estudar, o palco é meu lugar, o set é meu laboratório e essa alquimia me fascina, adoro o ser humano vivendo outras vidas e é na arte que somos tudo dentro do nada.
JP – Você também é escritora e roteirista da Academia Internacional de Literatura Brasileira, com sede em Nova Iorque. Você poderia comentar sobre esse espaço acadêmico?
Meu trabalho como escritora e roteirista faço pelo amor às palavras e às histórias, quando fui premiada em NY e entrei para Academia foi uma grata surpresa e muita emoção, uma brasileira, professora, com seu livro na Big Apple, isso é o máximo !!
JP – Você também é membro da diretoria do BWIE, uma Fundação para mulheres do entretenimento mundial, que tem sede em Los Angeles. O que é essa instituição? Como se dá a sua atuação? Quais os projetos que você já realizou?
Sim, faço parte do BWIE que é uma diretoria voluntária para unir as cineastas e produtoras, as mulheres brasileiras pelo mundo. Uma instituição fundada por uma mulher baiana, empreendedora que faz o maior festival de cinema brasileiro nos EUA, aqui em Los Angeles, o LABRFF e que está sempre atuando com oficinas, encontros online, e buscando apoio financeiro para novos projetos de mulheres do entretenimento pelo mundo.
JP – Você é diretora, formadora, gestora e autora. Como você consegue desempenhar todas essas funções de forma tão exitosa?
Sou curiosa e posso afirmar, gulosa demais, meu pai diz que continuo a mesma Sofista de sempre, quero criar e produzir e tudo isso transborda em todos os lados. Tive que me virar e fazer de tudo para conter essa ânsia de mudar o mundo, mas posso te confessar que tem horas que tudo isso no mercado fica frágil. Fazer tudo é também não fazer nada. Mas hoje, com a maturidade, me divido no trabalho. A educadora cria e faz os projetos de workcine e workshop pelo Brasil e a criadora, cineasta, roteirista junto com a direção criadora, produz e dirige projetos autorais. O que fizer sentido é na minha concepção de fazer para transformar.
JP – Quais são os seus projetos futuros?
Muitos. Estou com direção e produção pela Biarte, de dois documentários, terminando uma direção de outro, uma peça que estreia em abril, escrevendo um livro, continuo escrevendo os roteiros institucionais, reconstruindo minha vida em Los Angeles, onde resido hoje, dando aula on-line e aberta a novos projetos.