
Estreou a mostra teatral Carroça de Mamulengos (CM) no teatro do CCBB RIO 2.
O terceiro espetáculo da mostra tem como título Janeiros.
O espetáculo narra a historia dos quatro irmãos, Maria, Joao, Mateus, e Isabel, os filhos de Carlos Gomides e Schirley França, criadores da Trupe itinerante há quarenta e sete anos.
Os quatro brincantes interpretam, cantam, dançam, apitam, realizam acrobacias, empurram caixas, e tocam instrumentos como sanfona, chocalho, zabumba, triangulo, saxofone, entre outros. Eles estão a vontade na ribalta, alegres, livres e soltos. Apresentam uma sintonia e afinidade ímpar, uma intimidade profunda, que ultrapassa as fronteiras do teatro, pois ali está mais que um conjunto de atores. Eles formam uma família que viaja pelo Brasil transmitindo cultura e conhecimento.
A dramaturgia criada por Raysner de Paula e Maria Gomide tem um tom lúdico, musical, e poético.
O espetáculo tem início com o aparecimento da Velha Mais Velha do Tempo, personagem que personifica o vai e vem da trupe com os seus espetáculos, mantendo a tradição e a continuidade da CM ao longo dessas quatro décadas e nas próximas que virao.
A seguir, os quatro brincantes se apresentam. Eles são artistas ambulantes, que vivem de sonhos, arte e poesia. Eles vivem entre a realidade da vida e os sonhos, e nasceram com a missão de semear cultura. Eles atuam porque precisam, e ao assim proceder buscam entrar para a eternidade, para não cair nas garras do esquecimento. Portanto, por meio da sua arte, eles buscam a imortalidade, transmitindo cultura de geração a geração.
A tradição é um elemento presente nesse espetáculo por meio do sapato do “nosso pai”. De inicio só há um calçado do par. Mas eles procuram e encontram o segundo, elemento que se configura como uma memoria preservada do grupo.
A seguir aparece o urubu, em formato de boneco, que doa uma semente para uma das atrizes. A semente significa o começo de tudo. Ela é mais antiga que a Terra. É a semente do inicio do mundo para iniciar tudo de novo.
A sequencia da narrativa apresenta o personagem Vô, também em formato de boneco, que viveu do teatro e colheu o seu sustento. O velho é um repertório de histórias. Ele tem medo de cair no esquecimento. E, de repente, escuta o galopar do boi bravo do tempo, e nele vem montada a velha. Esta última irá devolver ao homem o tempo presente, pois a “sua coragem é do tamanho da necessidade”.
A seguir, a narrativa apresenta a tradição do boi e os brincantes do reisado.
E o presente! Se acha prenhe de possibilidades. E o brincante Joao Gomide ganhou um “presente”, o “rola-rola”. Ele toca a sanfona no “rola-rola” e se equilibra. E, por esse mundo sem fim, lá vai ele andando, se equilibrando, e mantendo viva a chama acesa de semear arte.
E, ao final, Joao nos brinda com a sua prole, o futuro. As filhas Helena e Amari participam do espetáculo. Helena monta a burrinha Serelepe, pois a “roda do tempo faz a vida girar e continuar”. E lá estão eles, de Janeiro a Janeiro, fazendo movimentar a engrenagem do tempo.
A direção é de Rodolfo Vaz, que realizou as marcações precisas e certeiras, direcionando as interpretações corretas dos brincantes.
Cenários e figurinos são criações de Wanda Sgarbi.
A cenografia è constituída por quatro caixas contendo elementos cenográficos. Ao final do espetáculo as quatro caixas são juntadas, ganham rodas, formando uma carroça com todos os seus mamulengos sobre a mesma. Forma um visual bonito.
Ademais, no palco hà a tolda, decorada com tecidos e fundo em tom vermelho, e cabaças, onde sao apresentados os bonecos da encenação, como o palhaço Janeiro, a Catirina, a burrinha, o urubu, entre outros.
A criação e construção dos bonecos bonitos e originais são de Carlos Gomide.
Os figurinos são bonitos, coloridos, e rústicos.
A iluminação criada por João Gioia apresenta um bonito desenho, e realça a apresentação dos brincantes.
A direção musical é de Beto Lemos, que nos brinda com musicas que apresentam letras melodiosas, poéticas, e com um conteúdo rico que facilita o entendimento da dramaturgia. Dentre as canções que são apresentadas podemos mencionar “Vai-vem Janeiro…”; “Boi”; “Roda Tempo”; “Burrinha”.
Janeiros é um espetáculo que arremata de forma notável a mostra Carroça de Mamulengos; apresenta um grupo de brincantes com uma atuação perfeita e emocionante; e bonitos e criativos figurinos, cenografia, e bonecos.
Excelente produção cênica!