
JP – Olá Antonio Manuel! Você está lançando o livro Incontornáveis. Como surgiu o projeto de confecção da obra? De que trata o livro?
O livro apresenta obras inéditas da série “Incontornáveis”, feitas sobre camadas de folhas de jornais, que são abertas com precisão cirúrgica do traço no contorno das palavras e das imagens que desejo revelar. Camadas de tintas de cores como preto, branco, amarelo e vermelho cobrem o que desejo esconder.
Fiz uma série destes trabalhos durante a pandemia e eles permanecem inéditos. Em conversa com meu filho, Mario Caillaux, surgiu a ideia de um livro-exposição, assim como em 1973 realizei o trabalho “Exposição de Antonio Manuel (de 0 às 24 horas nas bancas de jornais)”, que rompia com o formato tradicional de exposição e explorava a questão dos meios de comunicação de massa, censura e a temporalidade do periódico. Agora reúno uma série de trabalhos no formato de livro, ampliando, as 24 horas do jornal.
O livro, da BEI Editora, ainda traz textos inéditos de Ana Maria Maia e Paulo Venancio Filho, além do ensaio “O galo dos ovos de ouro”, escrito por Décio Pignatari, em 1973, justamente para a Exposição de Antonio Manuel (de 0 às 24 horas nas bancas de jornais).
JP – Qual foi o impacto da pandemia de COVID na sua vida como artista plástico?
A pandemia foi um momento muito difícil para todos, mas nunca deixei de trabalhar! Estes trabalhos da série “Incontornáveis” surgiram neste período, mesmo com todo o caos em que vivíamos, consegui produzir e criar novas obras.
JP – Quando surgiu o seu interesse pelas artes plásticas? Como se deu a sua formação na área?
Desde sempre me interesso pela arte e pelo fazer artístico, acho que é algo que já nasce com a gente. Comecei a trabalhar muito cedo, ainda adolescente, em uma agência de publicidade e lá tive contato com alguns profissionais. Nesta época, comecei a fazer meus primeiros desenhos, sobre folha de jornal. Depois, estudei na Escolinha de Arte do Brasil, com Augusto Rodrigues (1913-1993), e frequentei o ateliê de Ivan Serpa (1923-1973). Nessa época, fui aluno ouvinte da Escola Nacional de Belas Artes.
JP – Quais são as características do seu “fazer artístico”?
Arte de criar, arte de viver!
JP – Qual é a função que o artista deve cumprir na sociedade?
Como dizia Mario Pedrosa, arte é um “exercício experimental de liberdade”, acho que este é o papel do artista na sociedade.
JP – O seu trabalho artístico utiliza bastante os jornais. Como você trabalha esse material artisticamente?
Durante toda a minha trajetória já trabalhei com os jornais de diversas formas. Fiz desenhos sobre folhas de jornais; fiz uma série de trabalhos sobre Flans, extinta matriz do jornal; criei minhas próprias notícias e meu próprio jornal com as “Clandestinas”, que eu produzia na gráfica do jornal O Dia e que ia para as bancas junto com o jornal original. As pessoas compravam o jornal sem saber se era O Dia do dia ou o meu O Dia. Como dito, fiz também a exposição “Antonio Manuel (de 0 às 24 horas nas bancas de jornais)” e agora realizei esta série de trabalhos chamados “Incontornáveis”, que estão no livro de mesmo nome.
JP – Qual é a definição de arte que você partilha?
Arte é exercício experimental de liberdade, como dizia Mario Pedrosa.
JP – Quais são os seus projetos futuros?
Trabalhar sempre! Os projetos ainda são secretos, mas em breve serão revelados.