
O By Now parece ser o protocolo do momento.
Esse protocolo teve o auge na área de vestuário, com o fast fashion – muito impactante em meado da década de 1990 como modelo de negócios da moda, produzindo peças de vestuário em larga escala, vendidas e descartadas com rapidez.
Vivemos num mundo super consumista! O cliente é atingido pelas ações de marketing que encoraja a consumir sem necessidade, criando uma oportunidade e “experiência de compra”.
O filme Conspiração Consumista, documentário escrito e dirigido por Nick Stacly destaca como os sites logísticos usam a propaganda enganosa para atrair cosumidores, em todas as áreas, e mostra como a negligência na fabricação de produtos podem ter consequências desastrosas para os consumidores e meio ambiente.
A indústria da moda está entre as mais poluentes do mundo, depois da indústria do petróleo. E, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), ela é responsável por 8% dos gases do efeito estufa e por 20% do desperdício de água no mundo.
Pensemos que as grifes de moda lançam no mercado de 20 a 100 mil itens novo por ano! São mais de 100 milhões de peças de moda que são oferecidas ao mercado, seja através das vitrines e lojas físicas e sites ou mesmo nas redes sociais.
A compra é um prazer e após a compra, entra um outro aspecto que se inicia: “desperdice mais”. Na esteira do consumismo, os produtos que tem vida útil reduzida é o que o filme trata como “obsolecência programada”. É o fluxo do novo e do lixo do antigo. Toda a comunicação e ações comerciais são ativadas para a compra mas como se desafazer do que não se quer mais? Alguma preocupação com o meio ambiente???? A verdade é que o consumo vira lixo.
Quem cuida da responsabilidade ambiental? As empresas têm que planejar, a fundo, a vida útil do produto.
Existem negócios de empresas importadoras de peças de segunda mão. O negócio é completamente legal. O Observatório de Complexidade Econômica (OEC) é uma plataforma que registra diversas atividades econômicas pelo mundo e destaca que o Chile é o maior importador de roupa usada, recebendo 90% desse tipo de mercadoria na região para revenda.
A empresa PakChile, por exemplo, tem um site que oferece fardos de peças de segunda mão para a venda. A maioria dessas peças foi doada a organizações de caridade em países desenvolvidos e vão para locais de distribuição ou são entregues a pessoas necessitadas. É um bom negócio mas o que o que se vê é que grande parte da mercadoria acaba em lixões clandestinos.
Mas não é só roupa usada que chega ao mercado — na cidade de Colchane/Chile, a feira de La Quebradilla, em Alto Hospicio, é possível encontrar peças de marcas como H&M, Pepe Jeans, Wrangler e Nike.
O final desssa história é impressionante quando se vê a quantidade de lixo de moda abandonados, se acumulando em desertos, como o de Atacama, que recebeu o nome de Cemitério das Roupas, com o despejo de cerca de 60 mil peças por ano. Existem outros depósitos famosos com descarte de peças de moda como em Nairobi, no Quênia/África e Accra, capital de Gana/Ásia. E em São Pauol, já é uma realidade que o maior polo têxtil nacional, o bairro do Brás, tem caminhões lotados de restos de tecidos que saem diariamente para descarregar em lixões.
Algumas ações são monitoradas no mundo como o Movimento Lixo Zero, na Europa, e o dia 30 de março tornou-se o Dia Internacional do Lixo Zero 2025, promovido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela ONU-Habitat. O “Rumo ao resíduo zero na moda e nos têxteis”, é o tema que busca conscientizar a população sobre o impacto ambiental do setor, uma das indústrias que mais contribuem para a crise do lixo em todo o planeta.
No Brasil, existem várias plataformas (como o bancodetecido.com.br) de reuso de fibras e sobras de tecidos. É mais fácil reciclar no pré-consumo do que no pós, quando a roupa está pronta.
Algumas ações para o descarte de roupas já estão sendo trabalhaads em empresas como a Renner, que tem o programa Ecoestilo, com pontos de coleta de roupas limpas, que vai ao Programa de Logística Reversa, responsável pela triagem entre o que pode ser doado e o que vai para reciclagem. A C&A tem o Movimento ReCiclo, que leva as peças rasgadas e os retalhos para o projeto Retalhar que transforma esse material em matéria-prima para a indústria. A Reserva Circular é a ação da grife Reserva (roupas), e a Puket (Meias do Bem) também coletam peças que podem se transformar em cobertores para pessoas em situação de rua. A ONG Florescer cuida do projeto Recicla Sampa (trabalhando, principalmente com a reciclagem de jeans).
No portal noticias.portaldainsdutria.com.br, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), “A valorização dos resíduos é uma das formas de promover um modelo de produção mais sustentável, baseado na economia circular. Além da confecção de roupas com matéria-prima já existente, outra medida possível é a criação de produtos atemporais, sem se guiar por tendências específicas. Também faz parte a reciclabilidade, que é fabricar com poucos materiais ou com materiais separáveis, facilitando a reciclagem”
Uma boa notícia: desenvolvida pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), a Rota de Maturidade em Economia Circular é uma ferramenta que permite que as empresas façam uma auto-avaliação e recebam um diagnóstico sobre o grau de adoção de práticas de economia circular, com recomendações para aprimorar ações sustentáveis, a partir de um relatório customizado.
Deserto Vestido
A ONG Deserto Vestido contou com a parceria do Instituto Fashion Revolution, do Instituto Febre (que visa pesquisar e aprofundar questões do clima na indústria da moda), e a produtora Sugarcane Filmes para evento Atacama Fashion Week em abril de 2024.
O desfile foi produzido com looks criados com retalhos de roupas do lixão e contou com um ensaio fotográfico assinado por Mauricio Nahas.
Projeto Atacama RE-commerce
A grande novidade é a recem lançada plataforma VTE, de comercio on line, em parceria institucional com Fashion Revolution Brasil e Desierto Vestido, que lança o projeto que incentiva a reflexão sobre os atuais modelos de superprodução e consumo.
As peças oferecidas para venda serão higienizadas e depois, disponibilizadas na plataforma digital com custo zero. Os consumidores irão pagar apenas o valor do frete.
Criado pela Artplan, o site pode ser acessado pelo link www.recommerceatacama.com.
Esperamos que seja uma luz no fim do túnel! E os consumidores precisam pensar se necessitam realmente do By Now!