
Estreou Matilde no teatro do Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (CCBB-RIO).
O espetáculo é dedicado ao ator Paulo Gustavo, que idealizou o projeto no ano de 2015.
O texto de Julia Spadaccini é leve, suave, poético, romântico e emotivo, crítico ao etarismo, apresentando como premissa central o argumento de que o nascimento do amor e de uma paixão pode se dar entre dois indivíduos independente da geração e da idade. O amor é um sentimento que extrapola o tempo, nasce e brota em qualquer ninho, e transforma a vida das pessoas. Ainda que Matilde e Jonas tenham diferenças de idade e integrem distintos grupos geracionais, eles passaram a se relacionar, se tornaram amigos, e, dessa amizade, nasceu uma paixão.
Malu Valle faz uma Matilde solitária, 60 anos, ex-caixa de banco, que vive praticamente sozinha no seu apartamento, somente com a companhia do seu “peixinho” Bartô e, da sua amiga Odete, que se falam todos os dias pelo telefone. Para conseguir pagar as suas contas, teve que alugar um quartinho do seu imóvel.
Por sua vez, Ivan Mendes faz um Jonas cheio de projetos, inúmeras perspectivas futuras, um jovem ator, 36 anos, vegano, com seu inseparável violão.
A chegada de Jonas ao apartamento de Matilde transformará a sua rotina, lhe trazendo uma “nova vida”, passando a ter uma companhia. No início, ela terá suas inseguranças quanto ao hospede. Contudo, com a convivência e a aproximação, ela se livra dos medos e de fatos pretéritos que aconteceram em sua vida, acontecendo um estreitamento e uma paixão despontará. Eles se envolvem íntima e profundamente. Matilde até tenta se livrar dele, mandando-o embora do seu apartamento. Jonas vai. Mas retorna e não se abandonam mais. É o amor!
Malu Valle e Ivan Mendes têm uma atuação perfeita. Eles interpretam os seus personagens com uma técnica correta, e emocionam. Eles espalham o elixir do amor, do romantismo, do companheirismo, do respeito ao próximo, do carinho e do afeto. Eles sensibilizam a plateia. Apresentam um excelente domínio do texto, passando com segurança e firmeza, de forma clara e com uma linguagem de fácil compreensão; e do palco, ocupando-o com uma movimentação intensa. Portanto, eles têm uma atuação de qualidade e digna de louvor.
Além de interpretar, os dois atores cantam canções, de forma correta, todas relacionadas ao clima sentimental da peça, na bem sucedida direção musical e trilha sonora criada por Cláudia Elizeu. Muito bom ouvir Rita Lee!
A direção é de Gilberto Gawronski que realizou as marcações precisas e certeiras, e deu uma direção aos atores, cuja marca é a aliança da técnica interpretativa com a emoção. Eles são pura emoção!
Os figurinos criados por Carla Garan são adequados e corretos. Malu veste diversos figurinos ao longo da peça, desde roupas do quotidiano até trajes íntimos. Por sua vez, Ivan veste uma jardineira com camisa preta na parte de baixo.
A cenografia criada por Nello Marrese é de extremo bom gosto, criativa, original, e marcada por ser clean. Reconstitui o apartamento de Matilde, com mesa, cadeiras, poltrona, estante com televisão, vitrola, e projetor, e, na parte frontal, um “aquário” onde vive Bartô, seu companheiro do dia-a-dia. (“Bartô imerso no seu aquário”). O “aquário” de Bartô é o microcosmo de um universo maior, que é o apartamento de Matilde.
Na parte traseira visualizamos um conjunto de fios presos ao teto, e associado aos mesmos um conjunto de garrafas pets com líquido azul, constituindo um visual notável. A cor azul dá o tom da cenografia.
A iluminação criada por Ana Luzia Molinari de Simoni apresenta um bonito desenho de luz, e realça a interpretação dos atores em suas diversas cenas.
Matilde é uma excelente peça teatral apresentando uma dramaturgia consistente, bem argumentada, e um humor romântico; uma dupla de atores com uma atuação de gala, associando interpretação e emoção que a todos contagia; e uma cenografia criativa, que preza pela originalidade, e de um efeito visual primoroso.
Excelente produção cênica!