
Com curadoria de Luisa Duarte, a coletiva “Em busca do tempo roubado”, inaugurada neste sábado, 26, na Galeria Flexa, no Leblon, reúne 43 artistas, entre os quais destacam-se: Joaquín Torres García, Cildo Meireles, Iberê Camargo, Mira Schendel, Eleonore Koch, Guga Szabzon, Luisa Brandelli, Sonia Gomes, Carlos Garaicoa, Arthur Palhano, Laura Lima, Lidia Lisboa, Leonilson, Rivane Neuschwander, Adriana Varejão, Anna Maria Maiolino.
A mostra se dedica a abordar formas de temporalidade ao revés do mundo 24/7 – aquele no qual nos distanciamos da realidade sensível na medida em que habitamos zonas digitais. Ou ainda, aquele que se descortina diariamente a partir de dinâmicas ininterruptas de estímulos que findam por nos fazer reféns de uma constante atenção distraída.
Os três núcleos que compõem a exposição se apresentam como capítulos de uma espécie de pedagogia do tempo.
O herói como garrafa propõe um deslocamento da centralidade do imaginário heroico ao privilegiar o ordinário. Em A teoria da bolsa de ficção, Ursula K. Le Guin (1929-2018) faz menção a um glossário inventado por Virginia Woolf (1882-1941) no qual a palavra “herói” é substituída pelo termo “garrafa”. Tal operação encena um gesto crítico à reincidência da tônica heroica nos modos de contar histórias. Assim, a atenção ao ordinário recolhe, no tecido dos dias, as narrativas mínimas e as possíveis surpresas que habitam as malhas do comum.
Em Frequência dos hábitos recordamos que, na repetição dos gestos mais banais — escovar os dentes, riscar um fósforo, cortar uma fruta — podem habitar desvios inauditos. Assim, a repetição surge como recurso poético que aponta para o cotidiano como campo de invenção e subversão.
Já em A pele do tempo, o tempo se revela por sua densidade, menos como medida homogênea cronometrada e antes como matéria sensível. E se a pedra fosse uma metáfora para o relógio? Como mediríamos as horas? Tal pergunta parece sugerir a existência de fusos horários próprios a cada matéria, desobedientes às cronologias já catalogadas.
Confira como foi a abertura nas fotos de Cristina Granato.