
Apesar de ser um campeonato jogado nos EUA, com uma única equipe canadense entre as participantes, os vencedores do troféu da NBA se denominam campeões mundiais. Esse é um tema sensível para fãs e esportistas locais que defendem que por se tratar da liga que tem os melhores do planeta, essa afirmação é bastante justificável. É fácil achar quem partilha dessa ideia, sustentado por uma fé inabalável que atesta que qualquer time norte americano arrasaria um grupo, vindo de fora, para enfrentá-lo. A superioridade da seleção de basquete estadunidense nas olimpíadas, contribuiu para fortalecer, ainda mais, a teoria que aponta apenas atletas, supostamente invencíveis, jogando por lá. Antes do início da última temporada, todas as 30 equipes participantes das duas conferências (Leste e Oeste), acusavam pelo menos um estrangeiro em seus quadros. E é sempre oportuno destacar, também, que desde a década de 50, é jogada a Copa do Mundo de Basquete, a cada quatro anos.
Mas independente da alienação de alguns, é indubitável que a NBA é um selo global, que transborda as fronteiras do norte do continente americano. Seus times mobilizam fãs de todas as idades e cifras absurdas que giram um esporte que eterniza momentos e personagens fantásticos, há quase oitenta anos. Celtics City, série documental produzida pela HBO educa sobre como uma das marcas mais influentes do esporte mundial surgiu e ao mesmo tempo contribuiu para o nascimento de uma das ligas mais assistidas do planeta. Os nove episódios disponíveis no streaming Max cobrem os primeiros arremessos no extinto Boston Garden até o último título da franquia em 2024. O material se aprofunda numa história de muito sucesso, frustrações e tragédias, passando a limpo jogos lendários, desde as primeiras conquistas de Bill Russell e Bob Cousy, atravessando os anos de Larry Bird até Jayson Tatum e Jaylen Brown.
A trajetória do Celtics extrapola o noticiário esportivo. A importância da vitoriosa camiseta verde para Boston e o papel identitário que ela assumiu, é fascinante. Gerações de torcedores cresceram acompanhando o que se tornou comum e com dificuldades aprenderam a processar eventuais derrotas. Indagar quem seria capaz de impedir mais um título, foi o que sobrou diante da potência que essa equipe se tornou desde sua fundação em 1946. Ao todo, são 18, até agora. E o hábito de vencer tantas vezes, acostumou os seus entusiastas a imaginar o troféu nas mãos desse time antes mesmo de uma nova temporada começar. A equipe que conseguiu tantos feitos extraordinários, entre eles, vencer 11 de 13 campeonatos disputados, impôs aos adversários décadas de supremacia. Mas também amargou tempos difíceis com 22 anos sem levantar uma taça.
Para os que acompanham os jogos e viram muitos lances de tantos ícones se imortalizarem, Celtics City é, também, uma caminhada pela história da NBA. Uma aula sobre dinastias e uma reflexão da função social que o esporte tem, arrancando curativos e expondo feridas que surgiram até mesmo nos momentos mais bem sucedidos. É sobre comprometimento. E como um atleta é um cidadão como qualquer outro. Reflete sobre se posicionar e entender que um jogador bem sucedido não vive só de troféus e comendas pessoais. E reafirma que a diversão e paixão de tantos, segue sendo só mais um negócio para muitos outros. Figuras públicas, dirigentes, jornalistas locais, músicos, ex-jogadores, torcedores. Tipos diversos, nascidos e criados nas mais diferentes regiões da metrópole com a maior concentração de descendentes de irlandeses nos EUA, descrevem o que representa essa instituição e como ela mudou suas vidas. Um farto material histórico, muito bem compilado, revisita eras e aponta além, insinuando que não sonhar com novos feitos, não é opcional para essa torcida. São incontáveis eventos que, a cada capítulo, ilustram uma trilha verde e longeva que não parece ter fim. A série reporta como o time interferiu em agendas que iam além das quadras e de sua cidade sede. Como Boston é protagonista de vários momentos da história estadunidense. E como o Celtics segue caminhando junto e distante de ser um coadjuvante.