
Anna Bella Geiger Foto Rubber Seabra
Na sexta-feira, 30 de maio, no Teatro Unimed, em São Paulo, Anna Bella Geiger, um dos maiores nomes da arte contemporânea brasileira, lança uma nova edição de sua obra emblemática “O Pão Nosso de cada dia”, com uma performance inédita da artista no Brasil. Esta ação pública foi realizada apenas uma vez, em 1980, na 39ª Bienal de Veneza. Agora, quase meio século depois, volta a ser apresentado ao público. O projeto acontece por iniciativa da ATTO Arte, Instituto Comadre e Mendes Wood DM.
Criado originalmente em 1978, durante o período da ditadura militar brasileira, “O Pão Nosso de cada dia” tensiona temas como religião, fome, território e os vazios estruturais da sociedade. Na primeira edição, a obra foi composta por um conjunto de imagens reproduzidas em cartões-postais guardados em um saco de pão de padaria. Neles, a artista utilizou uma fatia de pão de forma — escolhida intencionalmente por seu formato regular, ideal para moldar os contornos do Brasil e da América Latina — e esculpida, com mordidas, os mapas dessas geografias, materializando, de forma literal e simbólica, o esvaziamento da fome, do básico e do individual.
Quase meio século depois, a nova edição ressurge como um gesto de permanência e denúncia. “Entre pão, prece e política, seguimos mastigando os mesmos vazios de um país que ainda não garante o essencial para todos”, afirma Maíra Marques, curadora e codificadora do Instituto Comadre.