
Através de suas obras um artista sempre se expõe e se apresenta. Os traços identitários de um autor estão nas pinceladas numa tela, nas notas escolhidas para uma canção, em cada fotograma sequenciado por um projetor ou entre as linhas de todas as páginas publicadas. E não importa o quanto alguns tentem se ocultar por trás de suas produções. O que criam é sempre a melhor forma de contar ao mundo quem eles são.
Segundo o poeta surrealista André Breton, a arte de Frida Kahlo é uma fita ao redor de uma bomba. A pintora que se surpreendeu ao descobrir que o movimento ao qual o escritor pertencia também tinha um lugar para as artes plásticas, desenhou sua vida de forma inigualável. Mas segundo a própria, seus quadros que, para tantos, ilustram imagens que remetem a sonhos, sempre revelaram nada mais que sua realidade.
Fazendo muito bom uso de um rico testemunho deixado por Frida em cartas, escritos e um magnífico diário ilustrado, Carla Gutiérrez conta a vida da mexicana que se tornou um ícone pop além de uma das pintoras mais reconhecíveis do planeta. Destacando diversos momentos, desde a infância no estúdio do pai fotógrafo e a descoberta das cores nesse espaço, passando por uma perspectiva subjetiva e poética de Khalo, do uso de cada paleta. A diretora foca nas primeiras experiências que instigaram a moça que um dia quis ser médica a pintar e como ela se enxergava no mundo.
Lançado em 2024, Frida (Prime Vídeo) é um perfil íntimo da artista que passou por tantos percalços e que transpôs nas telas, nada mais do que a expressão mais honesta de si mesma. Fazendo uso de suas próprias palavras e através de inúmeras recordações visuais, o documentário disserta um pouco mais além de tantos sentimentos flagrantes em suas obras. Lança luz as impressões pessoais dela a respeito de sua relação com o muralista Diego Rivera, com quem se casou duas vezes. E como a elite artística francesa a elogiou, mas não pareceu dar muito valor ao seu talento. Partilha os tempos difíceis, com sua saúde debilitada por conta de um acidente na juventude que comprometeu sua coluna e que, ao longo da vida, gerou diversos transtornos e agravou bastante a sua mobilidade. Frida aprendeu precocemente a estar junto das manchas que nos acompanham nos momentos mais diversos. As mesmas, ela compreendia, nos ajudam a viver. Ressignificou cores que descobriu na infância e que homenageou por diversas vezes. Como o amarelo, que ainda criança, lhe remetia a alegria e que perto do fim da vida representava a enfermidade. Coloriu a sua volta o que enxergava de forma fantástica, contribuindo para contar a história de seu povo e de seu país, colocando sua arte a serviço de uma revolução social. E pintou-se em várias obras, porque ninguém a conhecia como ela mesma.