
Estreou TA – SOBRE SER GRANDE na temporada do Corpo de Dança do Amazonas – Amazônia em Movimento no teatro do CCBB-RIO 1.
A ocupação nos permite conhecer as produções culturais da região norte do Brasil, a Amazônia, dando espaço para o “Corpo de Dança do Amazonas”, companhia estatal que representa a região e foi intensamente aplaudida com a apresentação de TA.
A direção artística, concepção e coreografia é de Mario Nascimento.
“TA” significa “Grande, para os Tikunas, povo originário do Amazonas, que ocupa uma vasta área.
Expressão curta, carregada de sentidos.
A língua, para esses povos, é parte deles.
Os sons do ambiente fazem parte do idioma que se fala, sejam pardos, roncos, chiados e tantos quantos conseguem escutar, definem onde vivem como “TA”.
Um território que abriga, acolhe, alimenta e precisa, também, de cuidados.
Carrega nos corpos e expressa toda força de um povo que vive nessa amplitude – o Amazonas.
O grupo de excelentes bailarinos dançam com uma energia vibrante e intensa. Eles se apresentam com um talento notável e entrega plena ao seu trabalho. Eles realizam movimentos coreográficos bonitos, complexos e precisos, que exige bastante vigor físico. Se movimentam intensamente pela ribalta. Executam passos, gestos com os braços e a cabeça, se rastejam e, rolam pelo chão, dão piruetas. Tem todo um trabalho gestual e de movimentação. Eles são bonitos, e apresentam corpos bem definidos. Eles seguem o direcionamento coreográfico de Mario Nascimento que se caracteriza pela robustez, pela potencia, e pela sofisticação.
Os bailarinos aliam à técnica perfeita das suas coreografias, a emoção da sua arte. Eles transbordam sentimentos. Emocionam ao executar uma movimentação que nos faz pensar que estamos vendo uma verdadeira tribo, com seus costumes e tradições no meio da floresta. Eles espalham a energia da vida na floresta.
“TA” é um espetáculo de dança, e movimentos coreográficos. Contudo, a arte é produzida dentro de um contexto de luta e resistência dos povos indígenas. O espetáculo funciona como um grito contra todo um conjunto de ataques, usurpações e destruições de que os povos nativos vêm sendo vítimas, desde o processo de invasão e colonização dessas terras pelo homem branco europeu. As comunidades nativas permanecem tendo suas terras demarcadas invadidas, a destruição da floresta prossegue com as queimadas e o desmatamento, o garimpo está intenso, os rios estão cheios de lama e com mercúrio, a fauna e a flora da região continua sendo destruída, entre outras questões que estão na pauta do dia. A floresta Amazónica e os povos que a habitam não estão nada bem. É uma área de conflito, de luta pela sobrevivência. E tal fato transparece no espetáculo com uma sutil brutalidade em determinados movimentos, como se os nativos estivessem indo para uma guerra, que é a guerra diária da luta pela sobrevivência. É a resistência dos povos nativos!
Os figurinos criados por Ian Queiroz são de bom gosto, tons diversos, e facilitam a intensa movimentação dos bailarinos.
A iluminação criada por João Fernandes Neto apresenta um bonito desenho de luz, com tons de luz variando entre o branco, o verde, e o azul, e contribui para realçar a atuação dos bailarinos.
A trilha sonora do DJ Marcos Tubarão é um ponto notável do espetáculo. Ela mistura sons naturais da floresta (cantos de pássaros e sons de outros animais) com melodias e ruídos da selva urbana.
TA – Sobre Ser Grande é um excelente espetáculo de dança contemporânea que nos apresenta a grandeza dos povos nativos, por meio de uma direção potente; apresenta um excelente conjunto de bailarinos, que executam com qualidade uma gama de gestuais e movimentos coreográficos; apresenta uma trilha sonora agradável e envolvente.
Excelente espetáculo de dança!