
Numa reportagem o que importa são os fatos. Quem testemunhou o que está se contando. Onde, quando, como. O porquê. Mas existem jornalistas que conseguem ser lembrados tanto quanto os eventos que noticiaram. Seja pela abordagem, pelo tom de voz ou pela qualidade de seus textos, alguns se eternizam junto às imagens e a palavras usadas. Em mais de cinco décadas de carreira, Glória Maria avançou muito além de se tornar mais uma figura constante na memória nacional. Trata-se de um dos rostos mais reconhecíveis da TV brasileira. Um espelho para quem não se via nas telas. Uma profissional que com seu pioneirismo atingiu cedo gerações que nem imaginavam ingressar no jornalismo. Glória sempre falou para todos e, particularmente, aos negros que não se identificavam representados em tantos setores, incluindo a televisão. Com seu microfone e uma atitude muito elogiada por colegas de trabalho, se colocou em todo o lugar e se lançou pelo mundo. Contou o que via com um olhar especial para desbravar sua ancestralidade, que não encontrou em escritos, na infância.
Lançada na TV Globo, semanalmente, entre os dias 27 de abril e 18 de maio, a minissérie Glória, com direção de Danielle França e Paulo Sampaio, repassa a trajetória de uma das personalidades mais admiradas do telejornalismo. Pelas palavras de colegas de profissão e artistas que ela entrevistou e tiveram a honra de se tornar seus amigos, a intimidade da carioca que percorreu centenas de países atrás de histórias, é apresentada ao público em quatro capítulos. A intensidade em que viveu cada pauta e como sempre soube trabalhar coletivamente, é destacada pelos que, com ela, acompanharam muitos momentos marcantes.
Já disponível integralmente no Globoplay, a produção emociona ao relembrar eventos diversos que tiveram na cobertura da repórter um alcance muito maior, graças ao seu compromisso com os mais variados temas. Um excelente tributo ao seu papel inspirador, reunindo em estúdio, inúmeras jornalistas, apresentadoras e produtoras de TV negras, que encontraram no trabalho dela uma referência que Glória nunca teve quando começou. Seus depoimentos sobre o impacto de vê-la empunhando um microfone e se impondo contra o racismo e qualquer barreira que a desafiasse, é tocante. São diversas matérias e fragmentos de bastidores que ganham na narração de cinegrafistas, técnicos e diretores um tom de nostalgia e celebração a esse talento que nos deixou no dia 2 de fevereiro de 2023.
Da cobertura da morte de Tancredo Neves, passando pela visita de Michael Jackson a um morro do Rio, Glória acompanhou copas do mundo, olimpíadas, guerras e testemunhou os mais variados acontecimentos de repercussão mundial. Tudo sem tirar os olhos do horizonte, se renovando dentro da profissão e se forjando eterna, por conta disso. Vivendo sem se preocupar com essa invenção do homem chamada: Tempo.