
O turismo da desgraça sempre despertou o fascínio de muita gente. Um cenário catastrófico também rende curtidas como a maioria das coisas se revela capaz de oferecer, hoje em dia. E em tempos em que tudo existe para ser postado, quem antes fomentava esse tipo de atividade, encontra nas mídias sociais uma forte aliada para garantir o sucesso de seus investimentos. O naufrágio do Titanic é um dos eventos mais impressionantes da história. Numa época em que a informação viajava vagarosamente pelo mundo, o relato da tragédia do transatlântico mais famoso de todos os tempos, chocou os que foram convencidos, mesmo à distância, que aquela embarcação era indestrutível. E a idéia de uma construção desse tipo, lançada ao mar, renovou o conceito de megalomania mais de um século depois que um iceberg contrariou a soberba de homens ricos.
Titan – O Desastre da OceanGate, produção original da Netflix, detalha um caso preenchido por uma forte carga egóica. Se fazendo valer de inúmeras imagens dos conturbados testes do submersível que prometia a melhor vista para o destroços do Titanic, o documentário expõe os percalços de um projeto arriscado e mal concebido. E revela que, a cada novo teste, os alertas de vários funcionários da OceanGate, não encontraram lugar na agenda de Stockton Rush, CEO e fundador da empresa. Rush investiu um montante considerável de sua fortuna na criação de uma embarcação que, segundo ele, estava destinada a revolucionar o turismo marítimo. E através de entrevistas, promoveu amplamente seu experimento como uma invenção inigualável, se tornando uma persona viral nas redes sociais, à época. Mas nos testemunhos de muitos dos que acompanharam o desenvolvimento da cápsula com revestimento de fibra de carbono, controlada por um joystick de videogame, seu fracasso era uma questão de quando. Titan, nome dado ao módulo subaquático que revelou diversos problemas técnicos nas mais variadas etapas de concepção, desafiou engenheiros e consultores que dedicaram muito tempo, tentando convencer Stockton que seus sonhos e ideias não eram o suficiente para afiançar o sucesso daquele empreendimento. A expertise dos que rodeavam o dono da companhia, foi desdenhada e tratada como um obstáculo para a realização de um novo modelo de expedição com turistas aos destroços do famoso navio. E o inevitável fim, tão alertado, etiquetou na história esse evento midiático, trazendo à superfície o caos administrativo da empresa.
Em junho de 2023, a cápsula estadunidense Titan foi levada por um navio canadense até águas internacionais e submergiu com quatro pessoas além do CEO. O dono da OceanGate era o responsável pelo comando do veículo que implodiu a caminho dos destroços de uma tragédia que segue no imaginário coletivo. Todos morreram, instantaneamente. A complexa investigação global neste caso, evidenciou o desrespeito, por parte de Rush, às certificações de navegação de agências oficiais, destacando, também, até onde a arrogância é capaz de afundar.