
“Me fizeram de pedra quando eu queria ser feita de amor”, primeira exposição individual de Carol Ambrósio na galeria Cassia Bomen, com curadoria de Shannon Botelho. A mostra inaugurada nesta quarta-feira, 11, reúne um conjunto inédito de esculturas que tensionam a materialidade da cerâmica e os afetos inscritos nos objetos do cotidiano.
A partir de uma arqueologia afetiva, a artista justapõe peças de porcelana garimpadas em antiquários — objetos antes utilitários ou ornamentais — para compor corpos escultóricos que oscilam entre o doméstico e o simbólico, o passado e a fabulação. Nesse gesto, Carol Ambrósio suspende a função original dos fragmentos e os reinscreve em uma nova lógica poética e política. O resultado são obras que evocam o totem, a mesa e o objeto de parede, desafiando as convenções formais e narrativas da escultura contemporânea.
Inspirado em verso de Hilda Hilst, o título da exposição aponta para o drama da incompletude e do desejo que permeia a poética da artista. Suas obras se erguem como contra-narrativas visuais, colocando em xeque os silenciamentos e as desigualdades historicamente destinados às mulheres — sobretudo no ambiente doméstico. Em sua prática, o que foi quebrado, falho ou imperfeito é acolhido como potência expressiva, propondo uma ética da impermanência e uma revalorização da fragilidade como força estética.
“Me fizeram de pedra quando eu queria ser feita de amor” estará em cartaz na Cassia Bomeny Galeria até dia primeiro de agosto.
Fotos Cristina Lacerda