
O sucesso dos filmes brasileiros ‘Ainda Estou Aqui’, de Walter Salles, em 2024, e de ‘O Agente Secreto’, neste ano, no cenário internacional devolve o respeito da sociedade ao setor audiovisual e o orgulho da população em ver sua história retratada ao redor do mundo. Entretanto, um desafio permanece para as empresas desse mercado: como financiar seus projetos?
“Conquistar incentivo público direto via leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc, ou indireto via Lei do Audiovisual e Rouanet é uma tarefa árdua e que exige uma expertise na construção de projetos, o que deixa muitas produtoras e artistas independentes de fora, por falta de acesso a essas informações”, explica Mab Vizeu, CEO da Noches Produções, que já desenvolveu projetos para a Disney, através do extinto canal NatGeo Kids, e hoje busca investimento para o anime Genius!, cujo piloto, lançado ano passado, cuja notícia de lançamento alcançou organicamente 4 milhões de pessoas menos de um mês.
A empresária, que hoje tem seu negócio acelerado no programa ‘Acelera Niterói’, focado no fortalecimento de negócios do município fluminense, acredita que é preciso pensar em alternativas complementares ao fomento público. “Atuamos em um sistema frágil, no qual mudanças políticas podem inviabilizar projetos já em andamento”, destaca Mab, que vê no Japão uma série de cases de sucesso de investimento privado no audiovisual, com grandes sucessos como o Naruto. “O seisaku iinkai é um modelo surgido entre os anos 70 e 80, de financiamento coletivo dos animes japoneses,, e movimenta bilhões com produções como ‘Demon Slayer’ e ‘Attack on Titan’. Estudando esse modelo, enxerguei como um caminho para reinventar o financiamento de filmes, séries e animações no Brasil”, aposta a empreendedora.
Como funciona o seisaku iinkai?
A dinâmica é a seguinte: um consórcio de empresas divide custos e riscos de um projeto, recebendo em troca direitos sobre partes específicas da receita. Um caso emblemático é o de ‘Demon Slayer’, que gerou US$2,7 bilhões em merchandising e licenciamento. “O segredo está na diversificação: transmissão, produtos derivados, trilha sonora e até turismo geram receitas complementares”, analisa Vizeu.
A adaptação desse modelo ao Brasil poderia encontrar potenciais interessados. “O interessante do comitê de produção é que além de dividir os custos, cada membro do comitê fica responsável por gerenciar a fatia do produto da qual tem expertise. Uma plataforma de streaming, ficaria responsável por gerenciar os direitos de exibição para outras janelas e territórios, uma empresa de figures gerenciaria os direitos de licenciamento de marca e personagem, e poderia sublicenciar esses direitos para outras empresas, por exemplo”, explica Mab. Grandes streamings como Globoplay e Netflix poderiam assumir direitos de exibição; empresas como Tilibra e Iron Studios, o licenciamento de marca e personagem. “Cada parceiro investe onde tem expertise e compartilha os riscos”, completa, Vizeu.
Em um projeto hipotético de R$2 milhões, por exemplo, um streaming poderia aportar 25% em troca dos direitos de transmissão, enquanto uma fabricante de material escolar investiria 15% para licenciar personagens.