
A parceria do violonista Baden Powell com o poeta Vinicius de Moraes redescobriu o Brasil. Segundo o cantor e compositor Russo Passapusso, foi um encontro do rio com o mar. Da água doce (Powell) com a água salgada (Moraes). Os Afro-Sambas, disco de 1966, é exaltado por muitos como um dos grandes símbolos de renovação e exaltação à diversidade artística nacional. A gravação, que vai muito além de um registro musical de muito sucesso, à época, segue relevante e num lugar de muito destaque entre os projetos mais inventivos da nossa música. Resultado de um fascínio dos dois pela sonoridade das rodas de samba e ritmos do candomblé, o álbum harmonizou com maestria cânticos da capoeira e diversos outros elementos percussivos como o berimbau e os atabaques. Trata-se da revelação de um país a si mesmo, se apresentando sonoramente a todo o território, aproximando regiões, capitais e bairros.
Os Afro-Sambas: O Brasil de Baden e Vinícius (disponível no streaming Max) partilha os bastidores do surgimento de um clássico transformador. No documentário, escrito e dirigido por Emílio Domingos, produtores, historiadores, críticos e músicos que contribuíram para a criação de um marco da nossa cultura, declaram seu amor por esse trabalho. Jards Macalé, Nelson Motta, Maria Bethânia, Hugo Sukman, Georgiana de Moraes, Silvia Powell e Roberto Menescal, estão entre os que apontam suas faixas prediletas e analisam as características mais impressionantes do encontro do poeta com o violonista. Familiares relembram as inspirações musicais de Moraes e Powell e revisitam notas pessoais de ambos sobre a sinergia que forjou um gênero. Numa ponte aérea Rio-Salvador, com imagens da década de 60 e dos dias de hoje, o filme também lança um olhar a indústria fonográfica, relembrando a extinta gravadora Forma. E salienta a relevância do icônico arranjador Guerra Peixe e do lendário Quarteto em Cy, para a excelência desta obra.
Emílio monta um documento histórico e importantíssimo sobre a criação de um disco arrebatador à primeira audição. Destacando personagens diversos que contribuíram para o registro de uma colaboração de dois tipos geniais. O dedilhado de Baden já se completava nas rimas de Vinícius antes dos dois, de maneira espontânea, escreverem esse episódio renovador da música popular brasileira. E essa é a história de músicos que reverenciavam tudo o que lhes fazia bem aos ouvidos. Artistas de coração aberto e genuinamente apaixonados pelo o que a cultura brasileira é capaz de produzir. Exemplos que corroboram que, nas parcerias intensas e nos encontros mais surpreendentes, forjam-se momentos eternos.