
Por Henrique Pinheiro – Economista e produtor executivo de cinema.
Samuel Wainer foi um dos melhores amigos de meu pai, o jornalista, político e advogado João Pinheiro Neto, ex-ministro do Trabalho de João Goulart, que foi, também, o presidente da Superintendência da Reforma Agrária, no governo Jango.
Meu pai, João Pinheiro Neto, e Samuel Wainer tinham, em comum, algumas paixões.
Entre elas, as paixões pelo jornalismo e pela democracia.
Naquele tempo, assim como hoje, também, as paixões eram e, ainda são, fundamentais para a vida.
Nascido em Bessarábia, Império Russo, Wainer imigrou para o Brasil, aos seis anos de idade, junto com seus pais, Dora e Jaime.
A família, de judeus russos, foi morar em São Paulo, no bairro de Bom Retiro.
Eu conto histórias da linda amizade entre meu pai e Samuel Wainer, dois grandes jornalistas e idealistas, na fotobiografia que comecei a escrever, “Os amigos (e os inimigos de meu pai)”, sobre João Pinheiro Neto.
Meu pai adorava falar sobre Samuel Wainer.
Wainer começou, de fato, a carreira no jornalismo, quando ligou-se ao grupo de intelectuais em torno da revista Diretrizes, que fundou em abril de 1934.
Jornalista de esquerda, foi trabalhar, em seguida, com o poderoso Assis Chateaubriand, nos Diários Associados.
Como repórter, destacou-se pelos ” furos de reportagem “, que são uma das melhores coisas que existem na vida de um jornalista.
Cobriu a Segunda Guerra Mundial, o Julgamento de Nuremberg, e, consagrou-se com a célebre entrevista com Getúlio Vargas, em 1949, que lançou o gaúcho para o ” Queremismo” , movimento denominado de “Queremos Getúlio” e para a campanha ” Ele vai voltar “, lançada para a volta de Getúlio Vargas, nas eleições presidenciais de 1950.
A amizade de Samuel Wainer com Getúlio Vargas resultou na criação do jornal Última Hora.
Graças à amizade de Getúlio, Samuel Wainer conseguiu um empréstimo com o Banco do Brasil para criar a Última Hora.
A Última Hora introduziu técnicas novas, no mercado. O jornal tornou-se o melhor.
Entre os que trabalharam na Última Hora de Samuel Wainer, além do meu pai, destacaram-se Nelson Rodrigues, Paulo Francis, Chacrinha, etc.
A Última Hora foi o único jornal a defender João Goulart, em primeiro de abril de 1964, quando houve o golpe militar .
Em 1968, com o nome na lista do AI-5, Wainer refugiou-se.
Em 25 de abril de 1971, a Última Hora de Samuel Wainer rodou sua última edição .
O grande jornalista morreu no dia 2 de setembro de 1980. Deixou um importante livro de memórias, Minha razão de viver, editado por sua querida filha e grande amiga, Pink Wainer.
No acervo de meu pai, encontrei muitas fotos dele com o querido Samuel Wainer .
Até hoje, nossas famílias são amigas. Um brinde ao jornalismo com paixão!