
Estreou Carangueja no teatro Poeirinha.
O texto, idealização, e a atuação são de Tereza Seiblitz.
O texto é sensível, afetivo, humanista, feminino, crítico, e preservacionista.
O texto narra a história de uma mulher que vive no manguezal, local que representa a força criadora da Terra. Neste espaço onde a vida se prolifera, essa personagem se impõe como uma lutadora, uma guerreira, um ser potente, uma figura da resistência feminina que questiona verdades ditas como absolutas, redefine conceitos, elimina preconceitos e adota novos comportamentos para superar as adversidades. É uma voz que revela uma dupla face, a de mulher e caranguejo, ser humano e crustáceo.
O texto também tem a sensibilidade de sublinhar a importância do mangue para a vida humana. Daí a importância da sua preservação. Desse ecossistema o ser humano retira benefícios para a sua sobrevivência. Como exemplo os caranguejos, fonte de alimento e sustento para as famílias.
Tereza Seiblitz tem uma performance de forte qualidade. Ela interpreta de forma perfeita, e emociona também. Nos revela a figura de uma mulher potente, resiliente, que enfrenta o dia a dia do manguezal, as marés cheias, o lamaçal. Ela caminha por aquele espaço, se movimenta o tempo todo, senta, se deita, dominando-o, e transmite o texto com clareza, e por meio de uma linguagem simples e assimilável. Apresenta uma boa comunicação com o público. Portanto, ela tem uma atuação deferida e louvada.
A direção é de Fernanda Silva e Tereza Seiblitz, que focou no texto, e deixou o palco livre para sua atuação soberana e majestosa.
O figurino criado por Fernanda Silva, Tereza Seiblitz e Maria Adélia é de bom gosto, criativo, e facilita a movimentação da atriz. Ele apresenta várias camadas, que se inicia com um vestido em tom laranja, por cima um pano preto trançado, e por baixo uma parte vermelha. Um ombro está coberto, o outro não.
A cenografia é simples, apresentando alguns elementos cenográficos como um balde de alumínio sobre uma bacia, um pequeno banco de madeira com um recipiente cilíndrico com velas, e um cesto. Embaixo das cadeiras da plateia, há uma “lama do mangue” sobre um pedaço de jornal, que o público pode pegar e criar algum objeto. Este é guardado pela atriz e as criações ficam num cantinho do palco.
A iluminação criada por Adriana Ortiz apresenta um interessante desenho de luz, que oscila entre uma luz clara e momentos de pouca luminosidade, e ajuda a atriz na interpretação da sua personagem.
Carangueja é um monólogo cujo texto é poético, humanista e preservacionista; uma atriz com uma atuação qualitativa e firme; e figurino, cenografia e iluminação que se complementam e contribuem para abrilhantar a atuação da atriz.
Excelente produção cênica!