Estreou Pequeno Circo de Mediocridades no teatro Poeirinha.
O texto de Leonardo Netto é potente, crítico, sarcástico, de humor ácido, realista, e denúncia os preconceitos e falsos moralismos.
O texto é composto por sete cenas independentes que apresentam um teor duro sobre a elite branca brasileira, a classe média dos anos 2020, e seus preconceitos e moralismos, abordando temas como consumismo, impunidade, paranoia armamentista, intolerância, hipocrisia e desigualdade social.
As sete histórias são:
1) cena de jogo;
2) fatalidade;
3) olhos de ressaca;
4) monstros em baixo da cama;
5) o buraco no salão;
6) atropelamento e fuga;
7) Selvageria.
O texto passa em revista os valores morais e culturais da chamada classe média brasileira, moralista, conservadora, e retrógrada. Para manter conquistas, benesses e privilégios, não possuem quaisquer escrúpulos. Fazem de tudo para mantê-los. O autor despe-a, tira as suas vestes encharcadas de falsos moralismos, preconceitos, e deturpações. Ele mostra-a em pele e osso, de forma realista e crítica.
O elenco é integrado por quatro atores: Alexandre Varella, Elisa Pinheiro, Gustavo Falcão e Marina Vianna. Eles têm uma atuação notável! Eles interpretam com uma técnica perfeita, e emocionam. Eles deixam transparecer sentimentos, de repulsa, intolerância, preconceitos, impaciência, entre outros. Eles dominam o texto, passando com clareza, e uma boa retórica; e dominam o palco, se movimentando intensamente e preenchendo todos os espaços. Apresentam também uma boa comunicação com o público. Portanto, uma atuação que merece louvores e aplausos.
No nosso ponto de vista, as partes Olhos de Ressaca, e Atropelamento e Fuga são as que mais se destacam. E a razão do destaque se dá em função da competente e perfeita atuação da atriz Marina Vianna, que demonstra uma capacidade plena de interpretar e emocionar, seja como Eudóxia, ou como Maria Lúcia.
A direção é de Leonardo Netto que realizou as marcações precisas e certeiras e deu uma direção à excelente atuação do elenco.
Os figurinos criados por Luiza Fardin são de bom gosto, elegantes, adequados e corretos. São roupas do quotidiano que as classes médias vestem.
A cenografia criada por André Sanches é simples e criativa. Ela passa por várias ressignificações. Começa como mesa e cadeiras para jogo de baralho, vira cama, e finaliza como mesa com cadeiras num restaurante.
A iluminação criada por Paulo César Medeiros apresenta um correto desenho de luz, e contribui para realçar as interpretações dos atores de seus personagens.
Pequeno Circo de Mediocridades é uma peça teatral que apresenta uma crítica densa e profunda dos valores das classes médias brasileiras; tem um elenco com uma atuação impactante e potente; e, figurinos, cenografia e iluminação são adequados e corretos, formando um belo conjunto.
Excelente produção cênica!
