
Lançado em 2022 pelo jornalista Chico Felitti, o podcast A Mulher da Casa Abandonada é um exemplo preciso de como alguns crimes são atemporais. A história da senhora vista morando num palacete em condições precárias de habitabilidade, em um dos bairros mais ricos de São Paulo, rapidamente chamou a atenção dos vizinhos. Aos poucos, alguns se mobilizaram para tentar entender sua situação e ajudá-la de alguma forma. Mas a verdade sobre a ocupante do imóvel que parecia pronto para se desfazer a qualquer momento, chocou o país e atraiu a curiosidade de muito mais gente, além daquele quarteirão. Margarida Bonetti, isolada numa construção antiga, em meio a prédios luxuosos, foi identificada como protagonista de um caso emblemático de escravatura moderna, junto de seu marido Renê.
Dirigido por Kátia Lund, o registo documental homônimo, disponível no Prime Vídeo, expande a história através de três capítulos, provendo mais detalhes, agora, com imagens. O sofrimento de Hilda Rosa dos Santos, empregada doméstica que foi levada pelo casal Bonetti para os EUA e mantida em condições análogas a escravidão, é repassado por meio de relatos e da reconstituição do cotidiano na casa. Vizinhos e pessoas que ajudaram Hilda, partilham como notaram que sua situação era preocupante, tão logo a viram pela primeira vez. Agentes Federais norte-americanos externam a frustração de não poder enquadrar os acusados pelo principal crime que cometeram, à época, por conta de leis desatualizadas que passaram por revisões, depois desse episódio. E a vítima também relata sobre sua vida no porão da residência e de todo o tipo de agressão sofrida ao longo de décadas. O caso, julgado no início dos anos 2000, condenou Renê a seis anos e meio de prisão. Mas Margarida, fugiu para o Brasil tão logo o casal foi descoberto pelo FBI e se manteve oculta até a prescrição do crime.