
Por Miguel Paiva
Jaguar se foi. Talvez tenha sido o maior cartunista junto com Ziraldo que tivemos. Mais um da turma do Pasquim que nos deixa assim sem mais nem menos. Não consigo me acostumar que o tempo passa, mesmo aquele tempo meio sagrado que vivemos todos. Parecia que o tempo do Pasquim ocupava todos os momentos da vida. E um pouco era assim. Pelo menos para mim. Sempre fui o mais jovem da turma e sempre fui tratado assim. Quando entrei para o Pasquim e segurei junto com outros a onda do jornal com a redação em cana, depois que todos voltaram recebi um não pela cara do Jaguar quando fui pedir um aumento no jornal. Afinal segurei a diagramação e criação do Pasquim por dois meses e depois, quando pedi, ouvi que era marinheiro de primeira viagem.
Tudo bem. Seguimos em frente e Jaguar continuou sendo um exemplo a seguir. Não que fizesse o meu estilo. Era um boêmio de Ipanema, fundador da banda e meio esculachado na profissão. Autor ou divulgador da famosa frase “Intelectual não vai à praia, intelectual bebe” e já é conhecida a lenda que ele levava os desenhos geniais para publicar dobrados no bolso da camisa. Quando chegava, sacava e publicava. Jaguar sempre foi assim. Na época do Pasquim fiz com ele o seu almanaque. Foi uma jornada e tanto. Trabalhávamos todos os dias na minha casa e dessa empreitada ficou um almanaque com tudo o que ele fez até então e algumas fotos e lembranças.
Depois nos encontramos muito em Itaipava na serra do Rio. Jaguar era um dos sócios fundadores junto com Lan e Hugo Carvana do bar do mercado municipal de Itaipava. Eu ia de bicicleta de Araras para lá para surpresa deles que de exercício só sabiam levantar os copos. Depois de um casamento com dois filhos com a poeta Olga Savary. Jaguar casou com a médica Célia Pierantoni com quem viveu durante muito tempo e parece que colocou um pouco de ordem na vida desregrada de Jaguar. Sei que ele parou de beber e sossegou.
Jaguar sempre foi um cartunista genial. Desenhava como poucos e não se enquadrava em nenhuma bandeira política. Era um contestador dos bons e sempre trabalhou na imprensa de oposição. Foi da Última Hora, da Folha, do Pasquim e de mais outros jornais quando eles existiam. Jaguar resistiu com seu estilo descontraído e pouco alinhado com o pensamento vigente. Era um humorista por excelência. Um desenhista de humor como poucos e demonstrava, desenhando, que seu estilo era único. Seus bonecos vinham de baixo. Começava desenhando os pés e não sei até hoje como chegava á cabeça com uma beleza estética única.
Era um campeão. Trabalhou pelo que eu saiba até o fim. Fez por merecer a admiração que nós todos temos por ele. Mais um que se va,i mas é mais uma lembrança boa que fica. Aprendi muito com ele e sempre persegui seu jeito descontraído de desenhar. Nunca consegui, mas me ajudou a evoluir. E fica a lembrança de um dos seus aniversários bissextos onde festejamos depois de sermos soltos do Dops, eu, Sérgio Augusto e Bruno Barreto. Acho que Jaguar morreu com 93 anos, mesma idade de Ziraldo, Quino, Mordillo e muitos outros. Talvez seja a idade boa dos cartunistas morrerem.