

O Brasil de 2022 tinha mais de 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais (15,6% da população), um salto de 56% em 12 anos. O índice de envelhecimento — idosos para cada 100 crianças — subiu de 44,8 para 80. É uma mudança estrutural que, no entanto, ocorre sob um sistema que reconhece quase exclusivamente a capacidade de produzir valor, e não de produzir sentido, coesão ou memória.
Na teoria marxiana, o valor é a forma social específica da riqueza no capitalismo, fruto do trabalho abstrato.
Fora dessa lógica, está a “terra do não-ser social”: O que não produz mais-valor é visto como custo ou peso.
O idoso aposentado, deslocado do mercado, é um corpo fora da categoria da formação do valor e precisa, no capitalismo contemporâneo, justificar sua existência pela capacidade de alimentar a acumulação.
Antes do capitalismo, a velhice ocupava posições de autoridade prestígio. Indígenas mantêm conselhos de anciãos como instância máxima de decisão.
Antes do capitalismo, a velhice ocupava posições de autoridade prestígio. Indígenas mantêm conselhos de anciãos como instância máxima de decisão.
No mundo greco-romano, a gerousia e o Senado institucionalizavam a experiência acumulada. No feudalismo, o idoso guardava saberes sobre terra, leis e rituais. A existência social medida em termos comunitários não se limitava ao vigor físico ou ao excedente mercantil.
O capitalismo industrial já havia subordinado a velhice à disciplina fabril. No capitalismo financeirizado, o processo se agrava: Aceleração tecnológica, obsolescência de competências e cortes nos sistemas de proteção social convertem a velhice em problema “administrativo”.
O capitalismo industrial já havia subordinado a velhice à disciplina fabril. No capitalismo financeirizado, o processo se agrava: Aceleração tecnológica, obsolescência de competências e cortes nos sistemas de proteção social convertem a velhice em problema “administrativo”.
No Brasil, 70% vivem com até dois salários mínimos; a pobreza entre idosos subiu de 2% para 4,2% e a extrema pobreza de 1,4% para 3,1%; 71,7% dos que trabalham estão na informalidade.
A retórica do “envelhecimento ativo”, muitas vezes, mascara a reintrodução do idoso no mercado em condições precárias.
A crise é também social: Estar desconectado aumenta em 14% o risco de morte; metade relatou solidão frequente na pandemia; 40% têm dificuldades de leitura e escrita e apenas 19% usam efetivamente a internet. A exclusão digital aprofunda o isolamento e restringe o acesso a direitos.
O quadro revela uma contradição central do capitalismo: A riqueza criada pelo valor cresce, mas o reconhecimento humano se estreita. A memória, a história e a experiência, encarnadas no idoso, são invalidadas como formas legítimas de contribuição social.
Superar essa lógica exige transformar a medida social, que, no momento, se faz pelo valor, e repõe o saber vivido, a mediação cultural e o cuidado intergeracional como dimensões centrais da vida.
A crise é também social: Estar desconectado aumenta em 14% o risco de morte; metade relatou solidão frequente na pandemia; 40% têm dificuldades de leitura e escrita e apenas 19% usam efetivamente a internet. A exclusão digital aprofunda o isolamento e restringe o acesso a direitos.
O quadro revela uma contradição central do capitalismo: A riqueza criada pelo valor cresce, mas o reconhecimento humano se estreita. A memória, a história e a experiência, encarnadas no idoso, são invalidadas como formas legítimas de contribuição social.
Superar essa lógica exige transformar a medida social, que, no momento, se faz pelo valor, e repõe o saber vivido, a mediação cultural e o cuidado intergeracional como dimensões centrais da vida.
Isso passa por proteção social universal e economia solidária, que reintegrem os idosos como sujeitos plenos de direitos e saberes.
A história pré-capitalista prova que é possível viver a velhice sem obsolescência. Mas essa revalorização depende de luta política, imaginação institucional e ruptura com a lógica que mede vidas pelo tempo de trabalho mercantil que contêm.
A história pré-capitalista prova que é possível viver a velhice sem obsolescência. Mas essa revalorização depende de luta política, imaginação institucional e ruptura com a lógica que mede vidas pelo tempo de trabalho mercantil que contêm.
Imagem Pixabay