
Dedicado à memória de Niomar Moniz Sodré Bittencourt, defensora da integridade e liberdade do Brasil em seu jornal Correio da Manhã.
Por natureza pessoal, sempre me contive ao emitir opiniões sobre figuras públicas que me caiam na antipatia.
Nessa última semana, contudo, houve um acúmulo de provocações e ações enraivecidas do novo presidente dos Estados Unidos, com soma estratosférica de disparates e péssimos hábitos políticos que prostraria o mundo inteiro em choque e incredulidade.
Conversei há pouco – o que faço por décadas, embora habitualmente – com velhos amigos e colegas de trabalho no venerável BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) em Washington, quando lá trabalhei nos anos 1960 como representante de Enaldo Cravo Peixoto para gerenciar recursos que, afinal terminaram por possibilitar grandes obras públicas supervisionadas e sugeridas por ele ao governador Carlos Lacerda entre 1961 e 1965: água potável para o Rio, esgotamento sanitário, parques como o Aterro de Dona Lota no Parque do Flamengo, quase uma centena de obras que pretendiam reformar e preparar o velho Rio para seus 400 anos em 1965.
Liguei para os velhos amigos, ainda na capital americana, e servidores dedicadíssimos à América Latina, para tentar alguma indicação do que estava acontecendo com o presidente da nação líder das Américas e, até aqui, suposta defensora da liberdade e da democracia. Mas também acusada de, vez por outra, perpetrar maus tratos aos seus vizinhos, aliados ou não.
A primeira pergunta que lhes fiz foi se o presidente estaria em seu juízo perfeito para disparar flechas envenenadas por todo o planeta, começando pela perfídia de anexar o Canadá e a Groelândia. Tive a petulância de lhes indagar, numa hipótese de certo viés anedótico e grotesco, se Trump teria imaginado propor um golpe para transformar a república dos Estados Unidos presidencialista em uma monarquia com ele, é claro, como supremo imperador, tanto do seu grande país como também controlador do planeta.
A resposta, depois de um silêncio encabulado, veio em tom grave: “você, meu caro, pode dizer isso só para me tirar do sério, mas fora do sério já estou desde que ele se apossou dos Estados Unidos. Explico: muita gente por aqui – inclusive parte do pessoal do BID teme algumas dessas truculências”.
Nessa altura do calor da conversa, não me contive e saí do tom mais austero que sempre me foi habitual: – Claro, caro Ronald (nome fictício, que os agentes secretos presidenciais poderão ir ao encalço dele num fechar de olhos…). Registro aqui que de repente no Brasil vem se somando uma multidão contra Trump, em camadas cada vez mais densas e irritadíssimas.
A partir dessa próxima sexta-feira o exótico estadista confirmou a taxação aos produtos brasileiros em 50%, o que provoca não só inquietação das classes exportadoras como do próprio país, já que o presidente – imperador teve o disparate de provocar uma novidade absoluta em toda a diplomacia do mundo depois da 2ª Guerra Mundial e textualizar, ipsis literis, que a taxação punitiva ao Brasil também se deveu pelo nosso país permitir que a justiça processasse o seu aliado preferencial – segundo informações secretas prestadas pelo deputado eleito no Brasil seu filho Eduardo Bolsonaro. Segundo o informante, apelidado de Bananinha no Rio, o ex-presidente brasileiro Bolsonaro seria implacável vitima de “caça às bruxas” pelo Brasil. Ou seja: confundiu alhos com bugalhos, já que o julgamento de Bolsonaro compete à Justiça, ao Supremo Tribunal Federal do país, e não ao supremo mandatário executivo da nação, o Presidente Lula.
O indescritível Trump perpetrou mais um choque e ainda mais inacreditável: sem qualquer escrúpulo interferiu na soberania do nosso país, lançando sanções punitivas nos Estados Unidos ao ministro Moraes. A presidência do Brasil, o poder executivo, e o judiciário, do qual o ministro Moraes faz parte, são poderes absolutamente independentes entre si.
Quando a notícia chegou ao Brasil, os homens de bem estremeceram. Afinal os magistrados são considerados quase sempre ilibados em todos os países. Aconteceram protestos em todos os meios – militares civis, eclesiásticos, diplomáticos, especialistas em direito internacional. Ato contínuo, a Casa Branca comunicou que o Ministro da Suprema Corte Alexandre de Moraes estava impedido de entrar nos Estados Unidos e teria bens e propriedades nos EUA (ele não os tem, em absoluto) apreendidos.
Ou seja: Trump pretende plantar o circo de tarifas, não apenas por motivos econômicos, mas muito mais por razões meramente politico-ideologicas contra um país aliado dos Estados Unidos durante duas guerras mundiais, em 1914 e 1939.
Nessa altura uma frase começou a lhe ser dirigida pelo Brasil insultado e logo se agregaria à reboque de outras: Vade Retro Mr. Trump!
Afora as grosserias com países amigos e aliados antigos, os ambientalistas e cientistas do mundo inteiro estão inquietos e cada vez mais empenhados ao protestarem contra as negativas de Trump para salvar o planeta denunciando toda a balburdia que o genial líder americano está promovendo e agindo insistentemente para liquidar com o que resta da saúde da Terra. Acreditem: não são exagerados os corações piedosos e ternos dos ambientalistas. Será certamente a mais terrível verdade.
Portanto, cabe mais uma vez explicitar, com tanta insensatez provocada por um líder mundial, Vade Retro Mr. Trump!