
As pessoas que foram importantes na minha vida vão sumindo uma a uma. Essa noção de tempo passando além de nova é meio sombria. Primeiro foi o Ziraldo, meu segundo pai que me ensinou tudo sobre ser desenhista e fazer tudo ao mesmo tempo. Ziraldo era craque nisso além de ser um dos maiores artistas gráficos do mundo. Depois foi o Jaguar, parceiro de Pasquim e mestre que me ensinou muita coisa também sobre como fazer humor. Como já disse, tentei desenhar como ele e não consegui. Jaguar era inimitável e único. Grande figura.
Em seguida o Luís Fernando Veríssimo também se foi. Esperávamos já há algum tempo, mas a morte é sempre dura de se aceitar. Veríssimo foi parceiro durante anos. Fizemos as tiras do Ed Mort por 10 anos e 5 livros além de outros trabalhos.
Agora foi a vez de Mino Carta, editor de revistas como Veja, Realidade, IstoÉ e Carta Capital. Quando voltei da Itália Mino me recebeu como bom compatriota apesar de não sermos. Ele estava lançando o Jornal da República e me ofereceu um quadrado numa das páginas para eu fazer o que quisesse. Fiquei feliz. Criei a série Happy Days que depois, o próprio Mino, levou para a revista IstoÉ. Outro italiano que também se foi e muito me ajudou na minha volta foi Pietro Maria Bardi, diretor do Masp. Na época ele organizava uma grande exposição no seu museu sobre a Imigração Italiana no Brasil. Desenhei esta história em quadrinhos em várias pranchas que foram expostas na entrada da mostra. Nada melhor para a minha volta ao Brasil. Ser recebido por esta turma de italianos foi mais do que útil. Happy Days foi um sucesso e abriu espaço para que eu criasse depois a Radical Chic.
Mino confiou em mim e gostava do que eu fazia. Talvez sentisse o faro dos tempos que vivi na sua Itália. Falava de comportamento o que era novidade no humor da época. Por onde passou, Mino deixou sua marca. Seu período na veja foi decisivo assim como na Realidade. Na IstoÉ da época estabeleceu uma imprensa livre e instigante. A revista era, além de tudo, muito bonita. Foram anos de enorme prazer. Mino depois saiu e criou a Carta Capital onde colocou toda a sua revolta contra os regimes autoritários e seu trabalho particular a favor da democracia. Mino foi um daqueles editores que marcaram um período da história da imprensa brasileira, antes das redes sociais, antes de idiotização geral do país. Vai fazer falta.