
No princípio foram criados os céus e a terra, fez-se a luz e Deus, em sua infinita beleza, criou o Rio e ali instalou seu almoxarifado, como relatou Monteiro Lobato. “…Mas, sob o sono dos séculos / Amanheceu o espetáculo…”, uma rosa dos ventos buarqueana.
O Rio de lindeza e exuberância singular em sua pluralidade ímpar, o Rio onde a Zona Leste é o mar, o Rio de montanhas que avançam sobre o mar e de florestas que teimam em resistir ao alastramento imobiliário desenfreado.
Olorum deu seus toques de suavidade e amor, paz e carinho criando a alvorada mais linda de todo Planeta e um povo que só quer ser feliz, na feliz(cidade) de ri(o)r de janeiro a janeiro. “Você já viu um amanhecer? Já viu o sol que faz de manhã? Deus é assim – sempre foi um exagerado…” disse Jayme Ovalle sobre a alvorada carioca. Calcanhoto não gosta de dias nublados. Ela sabe das coisas.
Estes ilustres cariocas, nascidos ou aventurados e acolhidos em terras tupis, escrevem e descrevem o que é viver em querências maravilhosamente cidadescas.
Agrippino Grieco escreveu dedicatórias à cidade; em uma delas lemos: “…É uma máquina de moer corações e cérebros. Persisto em andar pelas ruas do Rio. A rua é a melhor das bibliotecas.” Talvez, quem sabe, uma ode literária à João do Rio.
Théo-Filho enalteceu Ipanema, Gil mandou abraços ao povo da Portela. Elysio de Carvalho, em 1912, falava de larica e bonde em seu dicionário de gírias cariocas.
Ben, Flamengo até morrer, deu asas ao síndico, azul da cor do mar, quando Álvaro Moreyra versejou que: “… A história deste tempo conta que o homem feliz tem camisa, e é a camisa do Flamengo.” Manto Sagrado eternamente.
Chrysanthème descreveu nossas praias como: “Um longo de areias cor de âmbar, orladas de espumas…” pura poesia em forma de Rio.
Olegário Marianno versejou que, a Cidade Maravilhosa, na luz do luar fluídica e fina, lembra uma excêntrica bailarina, corpo de náiade e sereia, quem sabe viu Yemajá no balanço das águas da Princesinha do Mar.
Cae caetanou os dragões que evidenciam o corpo como tatuagem, das moças e rapazes coloridos pelo sol.
Seu Zé dá boa-noite para quem é da noite e bom-dia para quem é do dia, abençoa com saravá para quem dele é, e dá bençãos para quem não é.
A Cidade Maravilhosa é assim, este carnaval de geleia geral, essa imensidão que invade nossos corações, é a mais fina tradução e tradição do amor. A ela dedico versos de Gilka Machado, Invocação ao sono. “…Eis-me lânguida e nua / para volúpia tua /Faze a tua carícia…”.
Vivamos Rio apesar de todos os pesares.